Economia

Na Renner, agora a ordem é simplificar

No ano passado, o presidente da Renner, José Galló, chamou sua secretária, Eva, e comunicou que havia decidido tornar sua vida mais simples. Responderia somente a questões estratégicas, repassando dúvidas sobre áreas específicas a outros executivos, e deixaria de comparecer a eventos sociais sem relação com o negócio. Ao cortar as tarefas, viu-se com mais tempo em mãos. Decidiu, então, que todos na empresa deveriam agir da mesma maneira.

Há 15 anos à frente da rede de varejo, que fatura R$ 4 bilhões ao ano, Galló criou cinco passos para eliminar, em suas palavras, “melindres” do dia a dia. A ordem é encurtar a tomada de decisões. Nas salas, há uma frase questionando a necessidade de cada reunião. Até as apresentações corporativas ganharam limite: as mensagens precisam ser explicadas em até dez slides.

Vestido de cima abaixo com roupas da marca, Galló faz tudo para garantir que as novas regras sejam postas em prática. Por isso, mandou imprimir os “cinco passos” no verso dos crachás de 16 mil funcionários. Agilidade, diz o executivo, deve ser a meta número um das empresas de moda atualmente. “Precisamos analisar as tendências que surgem lá fora e transformá-las em roupas e abastecer as lojas o mais rápido possível.”

Enquanto a confiança dos empresários do varejo atinge o pior nível em três anos, a Renner mantém o pé no acelerador. Galló diz ainda não dar ouvidos a avaliações negativas sobre a empresa, como ocorreu no início de julho, quando dois bancos reduziram a recomendação sobre a ação da empresa. “Essas análises têm influência zero no nosso trabalho. Nossa perspectiva é sempre de longo prazo.”

É por isso, segundo o presidente da Renner, que as reduções de perspectiva para o crescimento do PIB de 2014 não influenciaram o planejamento estratégico da varejista. A empresa persegue a meta de abrir cerca de 40 lojas da Renner, além de acelerar a expansão de suas marcas de menor porte – a rede de produtos para a casa Camicado e a YouCom, de moda jovem.

Balanço

O balanço da varejista, divulgado no último dia 22, acabou por inverter o humor dos analistas. A alta de 10% nas vendas em lojas abertas há mais de um ano e o avanço de 21% no lucro no segundo semestre foram considerados “positivos” e “surpreendentes”.

Não aderir ao bloco dos pessimistas pode ser uma estratégia válida em tempos de crescimento baixo, afirma Marcelo Gomes, sócio-diretor da consultoria Alvarez & Marsal. “Como se esperava um resultado muito ruim para a moda feminina durante a Copa, muita gente pisou no freio. Ganhou quem investiu para atrair o cliente para a loja”, diz.
Em períodos de aperto como o atual, especialistas dizem que as qualidades e os defeitos das administrações ficam mais evidentes. Para Luiz Cesta, analista da Votorantim Corretora, o resultado do segundo trimestre da Renner é um indicador da capacidade da companhia de sobreviver aos “solavancos” econômicos. “Quando se olha o balanço da companhia ao longo do tempo, não há muita volatilidade nos resultados”, explica.

Para Galló, entre as decisões que ajudam a empresa a ganhar rentabilidade está o modelo logístico “push and pull”, que reduz o total de peças enviadas às lojas. Com menos unidades “sobrando” nas araras, a companhia diminui os itens vendidos em liquidação e preserva margens, aponta Guilherme Assis, analista de varejo da corretora Brasil Plural.

Para Assis, a empresa também acertou na mais recente coleção, o que incentivou o cliente a voltar à loja. Recentemente, a varejista, que terceiriza a produção de roupas, uniu as equipes de estilo e compra, para que os profissionais passassem a buscar soluções em conjunto.

Demanda

Para o presidente da Renner, a análise sobre o mercado de consumo no Brasil precisa adotar novos critérios. “A demanda reprimida já foi atendida. As pessoas não vão trocar de refrigerador e de carro todos os anos.” No caso do varejo têxtil, o executivo diz que a redução do mercado informal, que hoje domina 40% das vendas, é uma oportunidade para as grandes redes. E Galló frisa que ninguém ganha mercado pisando no freio. “A crise incentiva a eficiência e seleciona quem fica e quem desaparece do mercado.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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