O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) ainda não enxerga sinais consistentes de retomada do investimento no Brasil. O Indicador Ipea de Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF, medida dos investimentos no Produto Interno Bruto), divulgado nesta segunda-feira, 13, teve queda de 3,0% em janeiro deste ano ante dezembro de 2016, na série com ajuste sazonal. Além disso, a demanda doméstica deprimida e a alta ociosidade da indústria devem dificultar uma recuperação rápida dos investimentos.
“Pelo legado da recessão, a pior da história, a recuperação tende a ser bastante gradual”, diz o técnico de planejamento e pesquisa do Ipea Leonardo Mello de Carvalho. A expectativa é que o indicador siga mostrando um comportamento instável nos próximos meses.
Atualmente a indústria de transformação brasileira trabalha com 74,3% de sua capacidade, bem abaixo da média histórica de 80,9% e três pontos porcentuais abaixo do nível de utilização da época da crise financeira global deflagrada em 2008, com reflexos no Brasil em 2009. Isso significa que será possível responder a um eventual aquecimento da demanda – o que depende de uma melhora significativa do mercado de trabalho, ainda distante – apenas religando equipamentos parados, sem investimentos adicionais em um primeiro momento.
Fatores positivos para a FBCF, como os cortes na taxa básica de juros (Selic) pelo Banco Central, perspectiva de investimentos com as concessões em infraestrutura e melhora nos preços das commodities devem ter um efeito defasado sobre os investimentos. Para Carvalho, os reflexos desses pontos dificilmente aparecerão antes do segundo semestre.
Apesar disso, o técnico do Ipea acredita que o fundo do poço do investimento já passou. Em 2016, o Brasil registrou a pior taxa de investimento dos últimos 20 anos (16,4%), segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A FBCF caiu 10,2% ante 2015, acumulando 11 trimestres consecutivos de retração.