Com o mercado fechado há mais de oito meses para ofertas iniciais de ações (IPO, na sigla em inglês) no Brasil, os fundos de private equity estão buscando alternativas para a rota de desinvestimento. Entre essas opções tem crescido o número de transações envolvendo companhias estrangeiras com interesse em ingressar no Brasil. São investidores estratégicos e até mesmo venda de fundo para fundos, como explica o diretor de Investment Banking do Itaú BBA, Fernando Iunes. “Os fundos (de private equity) continuam captando e trabalham para não serem reféns de uma única rota de saída.”
O sócio-fundador da butique de investimentos em M&A (fusões e aquisições) VIB Partners, Celso Paes de Barros, destaca que o interesse dos investidores estrangeiros no Brasil, com olhar de longo prazo, tem se mantido, a despeito da volatilidade notada no mercado financeiro e dos indicadores econômicos no País. “O apetite por Brasil existe. Os preços para aquisições estão mais razoáveis e há interesse de empresas em entrar aqui”, diz. Além disso, a onda de consolidação em alguns setores também tem movimentado as atividades de M&A.
“O mercado brasileiro está muito mais sofisticado e há uma série de alternativas intermediárias ao IPO para a saída do private equity. Há hoje um leque de opções”, destaca o sócio da área de mercado de capitais do Mattos Filho, Jean Marcel Arakawa.
Dados da Transactional Track Record (TTR) mostram que neste ano até o dia 25 de agosto, os fundos de private equity realizaram 49 operações, sendo que em oito eles estavam na ponta vendedora. Entre elas, já se nota apetite do estrangeiro. A empresa norte-americana Equinix, por exemplo, comprou a participação do fundo Riverwood Capital na Alog Data Centers do Brasil e adquiriu o controle total da empresa. Outra operação com esse perfil foi a aquisição da fatia que os fundos GP Capital Partners V, a BRZ Investimentos e a Berna Participações detinham na Sascar, especializada na gestão de frotas e caminhões, pela francesa Michelin. A Sascar, aliás, foi uma das empresas que chegou a fazer o pedido de registro de IPO na Comissão de Valores Mobiliários (CVM) no ano passado, mas acabou desistindo da operação.
De acordo com a Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) as aquisições de brasileiras por estrangeiras corresponderam no primeiro semestre por 34,6% do volume total movimentado em fusões e aquisições no Brasil, de R$ 58,6 bilhões. Em número de operações os estrangeiros representaram 45,4%. Já as aquisições entre empresas estrangeiras no Brasil responderam por 9,1%, em valores.
Setores como de TI, varejo e serviços, que têm apresentado crescimento apesar do andamento geral da economia brasileira, estão atraindo os olhares dos investidores estrangeiros, conforme o líder de Private Equity da EY (antiga Ernst & Young), Carlos Asciutti. O especialista destaca, ainda, que se de um lado a escassez de IPOs fecha uma das saídas para os fundos, de outro, acaba criando uma oportunidade de entrada nas empresas. “As empresas que precisam se capitalizar acabaram abrindo as portas para os investidores estratégicos e os fundos de private equity. Com isso os preços também caem”, destaca.
No momento do estudo para o investimento já são desenhadas as alternativas para a saída, como lembra o sócio da gestora de private equity Spectra, Renato Absissamra. “Já se faz um panorama dos investidores estratégicos que podem se interessar pelo negócio”, diz. Segundo ele, se um fundo incorpora em sua análise somente a opção de saída via IPO, a estratégia pode ser tornar inviável.
Outra característica das investidas por private equity é a implementação de governança corporativa, o que as torna mais atrativas para investimentos estratégicos de fora do Brasil. “Continuamos vendo o interesse do estrangeiro para entrar no Brasil e muitas vezes, por conta do processo de adaptação às regras locais, existe uma preferência em já se comprar algo mais redondo“, afirma o sócio da área societária do escritório Mattos Filho, Pedro Withaker Dias. Um determinado nível de controle interno é tido como diferencial pelas companhias estrangeiras, concorda o sócio de advisory da Grant Thornton Brasil, Luciano Bordon.
O sócio da área empresarial, especializado em private equity, do escritório Pinheiro Neto, Henry Sztutman, pondera que no momento os investidores estratégicos se mostram “arredios” e que exatamente por conta disso os fundos estão começando a fazer negócios entre si. “Os fundos de private equity, que têm vivenciado muita competição no próprio setor, estão aumentado o seu cheque“, disse. Neste ano, por exemplo, o fundo General Atlantic vendeu sua participação na Aceco TI para o também fundo de private equity KKR. Sztutman destaca, por outro lado, que os estratégicos, tradicionalmente, fazem melhores ofertas, com melhor prêmio. “O estratégico é um consolidador e tem motivação para pagar mais”, lembra.