O principal clérigo xiita do Iraque, o aiatolá Ali al-Sistani, pediu unidade ao país após o primeiro-ministro Nouri al-Maliki ter se demitido. O premiê anunciou na noite de quinta-feira que estava deixando o cargo em discurso transmitido pela televisão em cadeia nacional.
A decisão de Maliki abre o caminho para a primeira transferência democrática de poder desde que as tropas norte-americanas saíram do país em 2011 e acontece em meio a pedidos generalizados de um governo mais inclusivo que possa atender a sunitas e curdos e aproximar as regiões do país.
Nesta sexta-feira, al-Sistani invocou o próximo governo a tratar das “deficiências” na segurança e reprimir a corrupção da classe política. Ele disse que há uma “extrema necessidade” para uma nova liderança que possa combater o terrorismo e remediar as divisões sectárias.
“Esta é uma mudança rara e positiva para que o Iraque busque novos horizontes que levarão à solução de todos esses problemas, especialmente nos setores políticos e de segurança”, disse o recluso líder religioso em sermão feito por seu porta-voz, Ahmed al-Safi, na cidade sagrada de Kerbala.
“A enorme disseminação da corrupção nas instituições estatais dificulta qualquer progresso real nos setores de segurança, serviços e no desenvolvimento econômico.”
Al-Sistani, que raramente aparece em público e quase sempre envia suas mensagens por meio de porta-vozes, vinha pedindo de forma velada, há semanas, que Maliki deixasse o cargo, uma rara intervenção do clérigo na política.
A decisão de Maliki de sair do governo neutralizou uma crise que prejudicava a capacidade do governo de combater o grupo extremista Estado Islâmico, que tomou grandes partes do território oeste e norte do Iraque, o que inclui a segunda maior cidade do país, Mosul.
Maliki disse que estava deixando o cargo em favor de seu “irmão”, Haider al-Abadi, com o objetivo de “facilitar o processo político e a formação do governo”. Al-Abadi foi escolhido para o cargo pelo presidente Fuad Masum na segunda-feira, mas Maliki vinha se recusando a deixar o posto e insistia que se candidataria a um terceiro mandato.
Al-Abadi, um veterano político xiita, agora enfrenta o grande desafio de tentar unir os políticos iraquianos enquanto tenta formar um gabinete nos próximos 30 dias. As principais facções políticas do país desconfiam profundamente umas das outras e o Exército já se mostrou incapaz de retomar os territórios controlados pelos extremistas. Fonte: Associated Press.