Absolvido no primeiro processo de impeachment, julgado por um tribunal especial na tarde desta sexta-feira, 27, o governador catarinense Carlos Moisés (PSL) agora aposta em uma aliança com o Parlamento para escapar do segundo processo, que terá relatório analisado na próxima semana.
Logo após a decisão do tribunal por 6 a 3 a seu favor, Moisés chamou coletiva de imprensa na Casa DAgronômica, residência oficial, e disse que o processo tinha motivações políticas. "O processo sequer deveria ter sido iniciado. Hoje se restabelece a verdade e Justiça", afirmou.
O primeiro anúncio de Moisés ao retornar ao cargo foi a nomeação de Eron Giordani para a Casa Civil. Giordani, até esta sexta-feira, ocupava a chefia de gabinete do presidente da Alesc, Julio Garcia (PSD), o que é tido como fator determinante para também influenciar no julgamento do segundo pedido de impeachment, que trata da compra de 200 respiradores da China. Os equipamentos custaram R$ 33 milhões e foram pagos de forma antecipada, mas nunca entregues.
Garcia e Moisés foram antagonistas na crise instalada após o escândalo dos respiradores, que culminou no encolhimento drástico da base de apoio do governo na Alesc. Garcia foi responsável por colocar os processos em tramitação. Moisés chegou a declarar, durante as votações dos processos, que os pedidos de impeachment tinham motivação política.
Garcia, que foi denunciado pela Justiça Federal em dois processos da Operação Alcatraz, por corrupção, peculato, fraude em licitação e lavagem de dinheiro, tem tentado mudar o foro da denúncia para Justiça estadual. Ele chegou a peticionar no STJ, que negou a competência para determinar a mudança do tribunal julgador.
Uma das chances de Garcia conseguir a mudança do foro seria com o impeachment de Moisés e Daniela Reinehr (sem partido), que o colocaria no cargo de governador. Mas a vice-governadora acabou saindo do processo, restando apenas Moisés.
Questionado se a aliança com Garcia poderia influenciar no julgamento da próxima semana, Moisés disse que sim: "Eu acho que é importante, obviamente, porque começamos a ter parlamentares que compõe a base do governo, e se compõe a base do governo, pode nos trazer o resgate da verdade. Nós entendemos que, mesmo assim, não há justa causa", afirmou.
Moisés disse ainda que, desde seu afastamento, em 24 de novembro, decidiu "fazer política" e que nova fase de seu governo será marcada pela reaproximação do Parlamento. "Já estamos buscando ampla maioria", ressaltou. "A falta de diálogo com a Alesc sempre foi anunciada como grande defeito deste governo", continuou e o governador, justificando a nomeação.
Ao falar com a imprensa após ser reconduzido ao cargo, Moisés anunciou recursos para retomada da economia, para tratar a crise hídrica que atinge o Estado, mas não fez anúncios sobre o avanço da pandemia em Santa Catarina.
O Estado tem 13 das 16 regiões com nível de alerta gravíssimo para doença e está com hospitais lotados em praticamente todas as regiões. Enquanto Moisés esteve afastado, a governadora interina, Daniela Reineher, modificou os decretos de isolamento e buscou na Justiça o retorno das aulas na rede estadual.
"A situação impõe algumas medidas, mas não estamos falando de lockdown, não há espaço para atitude dessa natureza", afirmou, dizendo que vai se reunir com a equipe de saúde na próxima segunda-feira, 30.
No último mês, Santa Catarina teve ainda o fechamento de 190 leitos de UTIs exclusivas para o tratamento da covid-19 e está com uma taxa de 87% de ocupação nos hospitais.