Ato com representantes de várias religiões homenageia João Alberto

A homenagem a João Alberto Freitas, de 40 anos, morto após ser espancado em uma unidade do Carrefour, em Porto Alegre, reuniu cerca de 200 pessoas e ocorreu de forma pacífica. O ato ecumênico teve início às 18h desta sexta-feira, 27, em frente à Igreja São Jorge, na zona leste da capital gaúcha

O evento foi organizado por integrantes de entidades de religião de matriz africana e teve a participação de evangélicos, católicos e indígenas. Depois do ato em frente à Igreja São Jorge, os manifestantes rumaram a pé para a filial do Carrefour, também na zona leste. Esta não é a mesma loja em que João Alberto foi assassinado.

"Acreditamos que a morte não é a última palavra. Temos fé e esperança. Não podemos esquecer o que aconteceu ao João para que isso não se repita", discursou o frei capuchinho Carlos Susin, do lado de fora da igreja. Reginete Bispo, do Centro Africano Reino de Oxalá, foi incisiva. "Por causa de nossa cor de pele e da nossas condição social, somos tratados como menos humanos. Por isso estamos aqui juntos pedindo Justiça."

Minutos antes, durante a missa de sétimo dia da morte de João Alberto, o pároco da Igreja São Jorge, padre Sérgio Belmonte, encerrou a cerimônia pedindo "paz, não à violência e não ao racismo". Muito emocionado, o pai da vítima, João Batista Freitas, fez um apelo aos manifestantes: "quero pedir especialmente à juventude que não deixe cair essa bandeira. A luta pela igualdade no Brasil há muito tempo está ameaçada."

João Batista voltou a condenar o tratamento recebido pelo filho. "Os fiscais nos conheciam. Se meu filho não fosse no mercado comigo, ele ia com a mulher dele". Ele também lembrou a cena em que viu João Alberto morto na entrada da unidade do hipermercado. "Me avisaram que ele havia sido preso. Quando cheguei lá, vi uma poça de sangue e meu filho morto." E encerrou: "que a morte do meu filho não tenha sido em vão."

Dois seguranças e uma fiscal foram presos. Os detidos são a fiscal do Carrefour Adriana Alves Dutra e os dois seguranças que agrediram o homem negro, Giovane Gaspar e Magno Borges. A polícia, entretanto, continua investigando para verificar se há mais envolvidos na morte.

Gaspar e Borges foram presos em flagrante. Já Adriana teve prisão preventiva decretada na última terça-feira, 24. Na quarta, 25, a defesa pediu sua soltura. Conforme a advogada Karla Sampaio, a fiscal enfrenta problemas de saúde – é diabética e sofre com pedras nos rins -, e vem se colocando à disposição dos investigadores do caso. Até o fechamento desta reportagem, a Justiça não havia se pronunciado a respeito do pedido. A polícia investiga Adriana, Gaspar e Borges por homicídio triplamente qualificado.

Nesta sexta, a Justiça aceitou o pedido da Polícia Civil para prorrogar por mais 15 dias o prazo para a conclusão do inquérito. Segundo o diretor da Divisão de Inteligência Policial e Análise Criminal do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa do Rio Grande do Sul, delegado Eibert Moreira Neto, os investigadores necessitam de mais tempo para analisar imagens de câmeras de monitoramento do Carrefour. O objetivo, segundo ele, é verificar "a conduta dos seguranças perante às atitudes de clientes que frequentam aquele estabelecimento".

A Brigada Militar informou nesta sexta que decidiu pela expulsão do policial militar temporário Giovane Gaspar da Silva. Mas ainda cabe recurso. A defesa do policial tem até a próxima quarta-feira, 4, para se manifestar.

Em depoimento nesta sexta à Polícia Civil, Gaspar justificou que seu intuito durante a briga com João Alberto era imobilizá-lo. No depoimento à delegada Roberta Bertoldo, da 2ª Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), que conduz o inquérito, o policial afirmou que foi chamado para auxiliar uma caixa do Carrefour e, quando chegou ao local, presenciou João Alberto encarando uma funcionária. Gaspar ressaltou que a vítima foi conduzida ao estacionamento e que, antes de receber um soco de João Alberto, nada havia sido discutido entre eles.

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