Em um raro reconhecimento de fracasso, a Organização Mundial da Saúde (OMS) alerta que o Ebola pode não ser mais erradicado e se transformar em uma doença endêmica na África, obrigando países a ter de conviver com o surto de forma permanente.
O alerta faz parte de um estudo publicado hoje, em conjunto com o Imperial College de Londres, para marcar os seis meses da explosão da doença e que indica que, se um maior controle não for realizado, o mundo registrará “milhares de casos e mortes a cada semana”. No levantamento, a OMS admite que o número de infectados pode atingir 20 mil pessoas em pouco mais de um mês, superando os prognósticos mais pessimistas feitos pelos especialistas e apontando que, talvez, o vírus jamais deixe a região da África Ocidental. Uma vacina ou remédios não estarão disponíveis ainda por meses.
Trata-se do primeiro reconhecimento público da OMS de que a ideia de acabar com o surto pode não acontecer e que o fracasso na resposta mundial significa uma nova realidade para os países mais afetados. Libéria, Serra Leoa e Guiné são alguns dos países mais pobres do mundo e a constatação da entidade aponta para um futuro sombrio para essas economias.
No dia 23 de março, a OMS oficialmente registrou e reconheceu caso de Ebola na Guiné. Mas dezenas de outros casos já haviam sido registrados desde dezembro, sem que a entidade tivesse certificado o surto.
Em agosto, a entidade havia estimado que, na pior das hipóteses, 20 mil pessoas seriam contaminadas ao longo de 2015. Mas com a progressão exponencial do vírus, a marca promete ser atingida já em novembro. Ontem, os números apontavam para 5.864 infectados e 2.811mortos.
Segundo o estudo publicado no New England Journal of Medicine, o cenário mais dramático aponta para 20 mil infectados já em outubro. Para chegar à constatação de que a marca dos 20 mil casos pode ser rapidamente superada, a OMS usou a progressão da doença nos países mais afetados. Em 15 dias, o número dobrou na Guiné. Até novembro, a estimativa é de que metade dos 20 mil casos estará da Libéria, 5,7 mil na Guiné e 5 mil em Serra Leoa.
Pobreza
Segundo a OMS, o vírus desta vez apresenta as mesmas características dos outros surtos nos últimos anos. Mas a proliferação de casos foi uma mistura da péssima condição da saúde do local, da falta de medidas suficientes para conter a doença e do fato de que o vírus chegou às maiores cidades dos países. De acordo com o levantamento, 70% dos infectados morreram.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.