O tom de ceticismo dominou a reação de opositores russos neste sábado depois que o chefe do serviço de segurança federal da Rússia, Alexander Bortnikov, afirmou que dois suspeitos do assassinato do opositor russo Boris Nemtsov foram detidos. O anuncio, considerado vago, trouxe apenas uma fraca satisfação para os companheiros de Nemtsov.
Em comentários mostrados na TV estatal, Bortnikov disse que os dois suspeitos eram da região russa do Cáucaso Norte, mas não deu mais detalhes sobre seus nomes.
O chefe do serviço de segurança declarou que os homens eram “suspeitos da realização do crime”, mas não foi claro sobre se qualquer um deles teria disparado os tiros que mataram Nemtsov enquanto ele caminhava por uma ponte próxima do Kremlin no dia 27 de fevereiro. Nenhuma acusação formal foi anunciada.
A morte de Nemtsov chocou a já pressionada e marginalizada oposição russa. Há fortes suspeitas entre opositores de que o assassinato foi ordenado pelo Kremlin em retaliação às fortes críticas de Nemtsov ao presidente Vladimir Putin. O opositor de 55 anos trabalhava num relatório sobre o envolvimento militar da Rússia no conflito do leste ucraniano.
Mas o principal organismo investigativo da Rússia informou que investiga várias possibilidades para o crime, dentre elas a de que a morte de Nemtsov tenha sido uma tentativa de prejudicar a imagem de Putin. A possível conexão de extremistas islâmicos no crime também é analisada, além de aspectos da vida pessoal do opositor.
Muitos acreditam que o assassinato de Nemtsov numa área tão protegida não seria possível sem envolvimento oficial e que ela pode ter sido uma tentativa de assustar outros críticos do governo.
Putin havia dito que a morte de Nemtsov foi uma “provocação”, mas não deu nenhuma declaração neste sábado.
Um dos aliados oposicionistas mais próximos de Nemtsov, Ilya Yashin, disse no Facebook que “é difícil julgar se os suspeitos são os reais criminosos ou se a investigação seguiu um caminho falso”. De toda forma, disse ele, “é extremamente importante que o assunto não se limite a prisão dos atiradores, sejam estes dois os reais assassinos ou não”. Para Yashin, “a verdadeira tarefa é identificar e punir aqueles que ordenaram” o ataque.
“Até o momento, são pouquíssimas informações, mas é bom que os primeiros resultados da investigação tenham aparecido”, disse outro líder oposicionista, o ex-primeiro ministro Mikhail Kasyanov, a uma agência de notícias.
Em outros casos de assassinatos de opositores do governo, especialmente no caso da jornalista Anna Politkovskaya em 2006, houve forte crítica quanto ao fato de que as pessoas que ordenaram o crime não foram identificadas nem processadas. Fonte: Associated Press.