O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, afirmou neste sábado esperar que seu sucessor, o republicano Donald Trump, mantenha sua política em relação à América Latina, inclusive o restabelecimento das relações norte-americanas com Cuba.
Obama, que está na capital do Peru para a cúpula anual de líderes da Cooperação Econômica da Ásia e do Pacífico (Apec, na sigla em inglês), disse que Trump deve promover mudanças em relação à política comercial do país, mas minimizou a significância das alterações.
“Em relação à América Latina, eu não prevejo grandes mudanças de política por parte do novo governo”, afirmou.
Ele acrescentou, no entanto, que “tensões serão levantadas, provavelmente em relação ao comércio exterior mais do que em outros campos, uma vez que o presidente eleito construiu sua campanha prometendo analisar cada política comercial para, potencialmente, revertê-la”.
Obama salientou, no entanto, que, ainda que a equipe de Trump se debruce essas políticas, ele espera que essas autoridades vejam “que elas estão funcionando” e que proponham apenas “modificações”.
“As coisas que você diz durante a campanha nem sempre se refletem no seu governo”, notou o presidente.
Durante sua campanha, o então candidato republicano criticou repetidamente acordos comerciais como a Parceria Transpacífica (TPP, na sigla em inglês) e o Tratado norte-americano de Livre Comércio (Nafta, na sigla em inglês).
Neste sábado, Obama se encontrou com líderes de outros países que integram o projeto de criação do TPP, um acordo que não deve ser ratificado pelo Congresso ainda durante sua gestão, admite sua equipe. O TPP foi uma das principais iniciativas de seu segundo mandato, peça fundamental de sua política em relação à Ásia.
“Conversas desconfortáveis irão acontecer com outros presidentes”, afirmou Scott Miller, especialista em comércio exterior e conselheiro do Centro de Estudos Internacionais e Estratégicos. Durante sua campanha pelo TPP, Obama utilizou seu prestígio para pressionar as lideranças de cada país a enfrentar a oposição doméstica em favor do pacto comercial.
O presidente norte-americano ainda deve ter uma reunião com o presidente da China, Xi Jinping, ao final do encontro. Embora não espere nenhum grande anúncio, Xi pode ser uma figura chave para convencer Trump a não retirar os EUA do acordo climático de Paris, atingido no ano passado.
A participação dos Estados Unidos e a China, dois dos maiores poluidores do planeta, foi essencial para atingir um consenso. Dessa forma, pode ficar nas mãos de Pequim convencer Trump a manter o acordo.
Como é a última visita de Obama à América Latina, analistas esperavam que ela centrasse sobre políticas importantes de seu governo na região, como o restabelecimento de laços diplomáticos com Cuba. No entanto, a vitória de Trump deve centrar o foco sobre as mudanças que ele pode trazer para a região.
“Obama gostaria de terminar seu mandato celebrando seus feitos, mas com a surpresa e a grande incerteza que se abateu sobre todos desde a vitória republicana, o clima está longe de ser animado”, afirmou Michael Shifter, presidente do Diálogo Inter-Americano. “Parte do legado de Obama (para a América Latina), incluindo Cuba, pode estar em risco”. Fonte: Dow Jones Newswires.