O governo sírio recusou neste domingo a mais recente proposta do enviado da Organização das Nações Unidas (ONU) de trégua em Alepo, pedindo que os insurgentes se retirem e afirmando que não concederá autonomia ao leste controlado pelos rebeldes em troca de paz.
O ministro das Relações Exteriores da Síria, Walid al-Moallem, disse que restaurar o poder do governo é uma questão de “soberania nacional” e que Damasco não permitiria que o povo do leste de Alepo seja “refém de 6 mil pistoleiros”. “Concordamos com a necessidade de que terroristas saiam do leste de Alepo para acabar com o sofrimento dos civis na cidade”, disse.
Ele falou depois de se reunir com o enviado da ONU, Staffan de Mistura, que reconheceu “grande desacordo” com al-Moallem e afirmou que uma solução “criativa” mesmo que interina é necessária para fazer cessar a violência. “Estamos apenas propondo que não haja uma mudança dramática radical na administração de Alepo até que surja uma solução política”, afirmou.
O enviado alertou em entrevista recente ao jornal britânico The Guardian que o governo sírio está perseguindo uma “vitória pírrica” (obtida a um custo muito alto) em Alepo se não chegar a um acordo político com a oposição. Ele advertiu que a abordagem militarista levaria rebeldes mais moderados para as fileiras do Estado islâmico.
Pelo menos 172 civis foram mortos desde que o governo renovou há seis dias a ofensiva ao enclave cercado, de acordo com o Observatório Sírio para os Direitos Humanos.
A ONU estima que 275 mil pessoas estejam presas dentro do cerco. Até sábado, o governo tinha danificado ou destruído todos os hospitais no leste, de acordo com Sociedade Médica Sírio-americana, que apoia os hospitais na Síria. O governo nega ter atacado hospitais, e o enviado da ONU disse que há uma “divergência de opinião” sobre os ataques. De Mistura afirmou que propôs enviar uma equipe de observadores para inspecionar todos os hospitais em Alepo, mas a discussão não avançou.
O enviado da ONU propôs que o governo sírio conceda ao leste de Alepo
autonomia em troca da paz e pediu que 900 militantes ligados a Al-Qaeda no leste partam para outro território controlado pelos rebeldes.
Al-Moallem também pediu aos militantes que se retirem e disse que
o governo do presidente eleito dos EUA, Donald Trump, cortaria
o apoio aos “terroristas” na Síria e “reprimiria” os Estados que os apoiam, uma referência à Turquia e à Arábia Saudita.
No domingo, forças pró-governo avançaram para partes estratégicas do
importante distrito de Hanano, de acordo com a mídia estatal e o observatório. “O regime tem como alvo tudo o que se move”, disse Ammar Sakkar, um oficial da facção rebelde Fastaqim na cidade. Ele disse que o governo havia capturado a colina de Zuhour, que permite uma ofensiva a partes do leste. Rebeldes no entorno da cidade lançaram duas ofensivas mal sucedidas para quebrar o cerco e atiraram contra os distritos ocidentais controlados pelo governo.
Mais cedo neste domingo, pelo menos oito crianças foram mortas quando foguetes atingiram uma escola no oeste de Alepo, controlado pelo governo, disse o observatório. A mídia estatal síria afirmou que um professor também foi morto no ataque. Na aldeia de Nusaybeen, controlada pela oposição nos arredores de Damasco, pelo menos uma criança foi morta em um ataque aéreo em uma escola primária, também segundo o observatório.
O governo intensificou seus ataques no entorno de Damasco na região oeste de Ghouta, depois de forçar rebeldes no leste de Ghouta a se render. O observatório informa que pelo menos 30 civis foram mortos no oeste de Ghouta nos últimos 4 dias.
Em Alepo, um ataque aéreo no início deste domingo matou uma família de seis pessoas em uma casa no distrito de Sakhour, no leste, segundo a agência de notícias Thiqa. Fonte: Associated Press.