Horas depois do terceiro atentado terrorista no Reino Unido em três meses, líderes britânicos elevaram neste domingo o tom de crítica às empresas de tecnologia do Vale do Silício, pedindo mais regulação internacional para combater extremistas que usam o ciberespaço para espalhar sua mensagem e recrutar apoiadores.
“Não podemos dar a essa ideologia o espaço seguro de que ela precisa para crescer, afirmou a primeira ministra britânica Theresa May na manhã deste domingo. “Isso é precisamente o que fazem as grandes companhias que proporcionam serviços baseados na internet”
May afirmou que o Reino Unido deve trabalhar com outras democracias para “firmar acordos internacionais” que regulem o cyberespaço e previnam o planejamento do terrorismo. O discurso dela reforçou observações críticas que já vinham sendo feitas por membros do governo desde o primeiro dos ataques dos últimos meses, ocorrido em 22 de março na Ponte de Westminster. Dois meses depois, em 22 de maio, um terrorista suicida matou 22 e feriu 59 em Manchester, no norte do país, em um show pop para crianças e adolescentes.
A crítica a gigantes da internet como o Facebook e o Twitter ganhou eco em outros países, cujas autoridades também consideraram que não há esforços suficientes por parte dessas companhias no combate a extremistas.
Mark Mitchel, ministro da defesa da Nova Zelândia afirmou que a habilidade de terroristas de usarem as redes sociais e a internet para conseguir apoiadores é uma “clara e presente ameaça à segurança a todos nós”. A Nova Zelândia é parte de um acordo de inteligência com o Reino Unido, os Estados Unidos, a Austrália e o Canadá.
Gigantes da tecnologia tem lutado há duas décadas sobre como – e com que intensidade – limitar o compartilhamento de conteúdo indesejável, das músicas pirateadas às notícias falsas dos últimos meses. Governos têm aumentado a pressão para que eles impeçam a propaganda terrorista.
O desafio está em executivos de tecnologia balancearem seu desejo por ajudar no combate a um inimigo comum – como terroristas – com os valores libertários do Vale do Silício em proteção de direitos de liberdade de expressão dos usuários de internet.
A Apple resistiu a pedido de autoridades para desbloquear um iPhone usado por Syed Rizwan Farook, que matou 14 pessoas com uma faca em San Bernardino, na Califórnia, em dezembro de 2015. O telefone foi desbloqueado sem a ajuda da companhia.
Muitas empresas de tecnologia afirmam que já trabalham para vigiar suas plataformas contra conteúdo terrorista. Dizem ainda que cooperam com investigações policiais e judiciais. YouTube, Facebook, Twitter e a Microsoft concordaram no último ano em criar uma base de dados comuns que indentifica imagens terroristas de forma a acelerar a remoção de vídeos de propaganda.
O Twitter afirmou que suspendeu 376,890 mil contas por promoção de terrorismo e afirmou ter identificado quase dois terços desses perfis sozinho. Apenas 2% dessas contas foram encerradas por causa de requisições do governo, disse a empresa.
Na semana passada, o braço executivo da União Europeia comemorou tais esforços, afirmando que cada uma das companhias havia promovido a redução de conteúdo ilegal, incluindo propaganda terrorista, 59% das vezes em que as postagens foram marcadas para revisão. Trata-se de um aumento ante a taxa de 28% seis meses antes.
Um porta-voz do Google afirmou que a companhia “está comprometida com trabalhar em parceria com o governo e ONGs para combater tais problemas complexos”. O chefe de políticas públicas do Twitter, Nick Pickles, afirmou que a empresa “continua a expandir o uso de tecnologia como parte de uma aproximação sistemática de remoção desse tipo de conteúdo”.
“Usando uma combinação de tecnologia e revisão humana, trabalhamos agressivamente para remover conteúdo terrorista de nossa plataforma assim que nós o reconhecemos”, disse o diretor de políticas do Facebook, Simon Milner, em uma nota. “Se nós ficamos sabendo de alguma emergência envolvendo imediata ameaça à segurança de alguém, notificamos as autoridades”, acrescentou.
Líderes britânicos afirmam, porém, que as empresas podem fazer mais.
“As companhias deveriam ser multadas se elas não tiram do ar propaganda extremista, que deve ser removida porque é ilegal”, afirmou Yvette Cooper, que liderou o Comitê de Assundos Domésticos.
Pete Burnap, diretor do Laboratório de Ciências de Dados Sociais da Universidade de Cardiff afirmou que “há conversas difíceis a serem tidas sobre o que é aceito e o que não é nos diferentes países”, avaliou. Embora as companhias de tecnologia tenham dado passos na direção de remover contas de terroristas, ele afirmou que esforços são necessários para entender o impacto em comunidades. Fonte: Dow Jones Newswires.