Prefeito de BH reclama da pressão para reabrir comércio durante pandemia

O prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil (PSD), prevê hospitais lotados na capital por causa da pandemia do novo coronavírus e anunciou a abertura de 1,9 mil covas nos quatro cemitérios públicos municipais da capital. Ao mesmo tempo, reclamou de pressão feita por empresários para determinar a reabertura da atividade econômica na cidade e reafirmou que qualquer decisão neste sentido será tomada com base em posicionamento de infectologistas de comitê exclusivamente médico formado pela prefeitura. "Não fui eleito por meia dúzia de lojas ou meia dúzia de indústrias". As declarações foram dadas em pronunciamento nas redes sociais.

O presidente da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), Flavio Roscoe, em entrevista ao jornal <b>O Estado de S. Paulo</b> rebateu o prefeito e afirmou que a entidade não pede nada além do que vem ocorrendo em todo o mundo, que é um cronograma para a retomada. "O que a Fiemg propõe não é uma atitude irresponsável. Essa atitude de colocar 8 ou 80 é absurda. O confinamento é uma medida draconiana, de quem não tomou medidas que deveria tomar". Segundo o presidente da entidade, o uso de máscaras e a definição de distanciamento entre as pessoas têm eficácia semelhante ao confinamento.

É grande o número de pessoas a circular por Belo Horizonte mesmo depois da determinação da Prefeitura de obrigar o uso do equipamento para quem sai às ruas. Esse é o cenário sobretudo na região central da capital, onde é maior. É fácil comprovar também que, sobretudo nas filas de bancos, o espaço entre uma e outra pessoa não é respeitado. Kalil, no pronunciamento nas redes sociais, afirmou que "ainda não estipulou a multa", ao falar que já comprou máscaras para entregar à população, mas que os equipamentos ainda não foram distribuídos.

O presidente da Fiemg disse ainda que a entidade está fazendo mais que qualquer governo no Brasil em relação a respiradores, os equipamentos necessários para o tratamento de pacientes da covid-19 em estado grave. "Compramos 1,2 mil ventiladores, 1.050 desenvolvidos no Brasil e 50 que virão da China. E agora nós somos os capetas?", questionou Roscoe. Os primeiros equipamentos, conforme o dirigente, estarão disponíveis em 15 ou 20 dias.

O prefeito pediu que a Justiça não determine "na caneta" a reabertura de estabelecimentos. "Um grupo muito competente, do qual não faço parte, monitora a situação (da pandemia) na cidade com técnica, matemática, saúde, infectologia, com estatística e probabilidade. É com isso que estamos trabalhando. Criamos uma condição de saber como e quando esse grupo vai autorizar a reabertura de Belo Horizonte", afirmou. O grupo é formado por médicos infectologistas. Empresários da cidade também já pressionaram para integrá-lo, o que foi negado.

"Fico horrorizado com a falta de sensibilidade humana de ver covas rasas. A Prefeitura de São Paulo está encomendando sacos plásticos reforçados para por cadáveres. E eu não quero fazer isso. Não vou fazer isso. Isso não é ditadura, não é gracinha, não é nada. Não quero ser o prefeito coveiro", disse.

Kalil disse estar horrorizado com as argumentações que chegam à prefeitura para justificar a volta da atividade econômica. "Nós temos condições de reabrir o comércio. Baseado em quê? No que estamos assistindo no Rio de Janeiro? Em São Paulo? No Amazonas? No Ceará? Em Pernambuco?", questionou.

O prefeito afirmou não ter dúvida sobre o que vai ocorrer com o sistema de saúde da cidade. "Os hospitais vão ficar lotados. Só para vocês terem ideia, nós estamos liberando 1,9 mil covas nos cemitérios. Temos que ter o seguinte: sou o presidente de tal entidade. Quero colocar os meus infectologistas na frente dos seus, para provar que os seus estão errados", declarou, em relação ao retorno da atividade econômica na cidade.

No pronunciamento, o prefeito cita a Fiemg e a Câmara de Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL-BH). No início desta semana, a prefeitura criou outro comitê, que terá a participação de empresários, para discutir a retomada econômica da cidade. O presidente da CDL-BH, Marcelo de Souza e Silva, afirmou nesta quarta-feira que aguarda o convite da Prefeitura para iniciar as discussões. "Acreditamos haver ambiente propício para a retomada gradual, mas a gente precisa conversar", disse.

O dirigente afirmou, em relação a posicionamentos médicos para o retorno, que essa parte é de responsabilidade do poder público. Silva declarou que a entidade elaborou protocolos, com base em prefeituras do país e de outras partes do mundo, para serem aplicados na retomada das atividades, como horários diferenciados para o funcionamento de lojas e higienização de áreas, além da proibição de aglomeração e o uso de álcool em gel.

Kalil disse que, depois da pandemia, o município vai ajudar quem teve de parar. "Então eu peço ao Judiciário, pelo amor de Deus, que ajude a Prefeitura. Isso não está sendo feito de qualquer jeito. Não pode autorizar um ou dois ou três ou quatro a abrir na caneta, porque isso vai custar vidas. Estou pedindo, implorando ao Judiciário." Segundo relatório divulgado nesta quarta-feira pela Secretaria de Estado de Saúde, a capital mineira tem 16 mortes por covid-19 e 561 casos confirmados da doença.

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