O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou neste sábado em sua conta no Twitter que está livre de suspeitas após a divulgação de um memorando do Congresso que alega que o FBI abusou de seus poderes de vigilância durante a investigação sobre possível interferência russa na eleição norte-americana. Mas o memorando também inclui revelações que podem complicar os esforços de Trump e seus aliados para minar o inquérito.
Trump disse no Twitter que o memorando o livra de suspeitas sobre o caso. “Mas a caça às bruxas russa continua e continua. Não houve conluio e não houve obstrução (a palavra agora usada porque, depois de um ano investigando sem parar e não encontrando nada, o conluio está morto). Esta é uma desgraça americana!”, escreveu Trump, da Flórida, onde está passando o fim de semana. Trump chamou a atenção ainda para pesquisa do instituto de orientação conservadora Rasmussen que indicou que a sua aprovação saltou para 49% e aproveitou para criticar a imprensa. “Então, por que a mídia se recusa a escrever isso? Ah, um dia!”
O documento de quatro páginas divulgado na sexta-feira afirma que o FBI, quando solicitou um mandado de vigilância para um assessor da campanha Trump, se baseou excessivamente em um ex-espião britânico, cuja pesquisa foi financiada pelos Democratas. Christopher Stele, o ex-espião que compilou as alegações, reconheceu ter uma posição contra Trump. Mas ele também foi uma “fonte do FBI de longa data” com bom histórico, de acordo com o memorando do presidente do Comitê de Inteligência da Câmara, o republicano Devin Nunes, da Califórnia, e sua equipe. Ao mesmo tempo, o memorando confirma que a investigação sobre ligações de Trump com a Rússia começou vários meses antes e foi “desencadeada” por informações envolvendo outro assessor de campanha.
A alegação central do memorando é que os agentes e promotores, ao autorizar o monitoramento das comunicações de Page, falharam em informar a um juiz que a pesquisa da oposição que fundamentou a suspeita do FBI recebeu financiamento da campanha presidencial de Hillary Clinton e do Comitê Nacional Democrata. Os republicanos dizem que um juiz deveria ter sabido que “atores políticos” estavam envolvidos em alegações que levaram o Departamento de Justiça a acreditar que Page poderia ser um agente de uma força estrangeira, acusação que ele nega. O FBI expressou “preocupações graves” com o memorando e o chamou de inexato e incompleto. Os Democratas disseram que o memorando é um conjunto de alegações escolhidas a dedo para evitar a aplicação da lei.
O memorando, contudo, confirma que a investigação de contraespionagem do FBI sobre a campanha de Trump começou em julho de 2016, meses antes do pedido de vigilância sobre Page, e foi “desencadeada” por informações sobre o assistente de campanha George Papadopoulos, que se declarou culpado no ano passado de mentir para o FBI. A confirmação sobre Papadopoulos é “o fato mais importante divulgado neste memorando”, disse Adam Schiff (Democratas, Califórnia), em resposta ao tuíte de Trump de que o documento o inocenta.
O período analisado no memorando deixa claro que outros assessores de Trump além de Page despertaram a investigação. O memorando também omite que Page estava no radar do FBI alguns anos antes como parte de uma investigação separada sobre influência russa.
O memorando foca em Page, mas Democratas disseram que “ele ignora o fato inconveniente de que a investigação não tenha começado nem tenha sido despertada por Christopher Steele ou pelo dossiê, e que a investigação persistiria com base em evidências totalmente independentes mesmo se Christopher Steele nunca surgido no cenário.” O pedido de monitoramento foi renovado em três ocasiões adicionais, o que significa que os juízes o aprovaram quatro vezes.
A divulgação do memorando vem em meio a um esforço de Trump e republicanos do Congresso de desacreditar a investigação sobre a interferência russa na eleição dos EUA. Fonte: Associated Press.