Novos confrontos entre soldados israelenses e palestinos na fronteira com Gaza deixaram dois palestinos mortos nesta sexta-feira, 6. Segundo Israel, tiros foram disparados em resposta a tentativas de manifestantes de se aproximarem ou derrubarem a cerca da fronteira. Nesta sexta, os manifestantes tentaram usaram a tática de queimar pneus próximo à cerca para dificultar a visão dos soldados israelenses.
Com as mortes desta sexta-feira sobe para 24 o número de palestinos mortos durante a série de protestos que começou na semana passada. As manifestações devem continuar ocorrendo por mais cinco semanas. Funcionários do sistema de saúde de Gaza afirmaram que 150 pessoas foram hospitalizadas nesta sexta, mas não forneceram detalhes sobre a gravidade dos ferimentos.
Segundo líderes do grupo radical islâmico Hamas, o ato desta sexta foi apenas mais um de uma série de outros que devem ocorrer contra o bloqueio do território, que já completa uma década. Em resposta, Israel acusa o grupo de usar as manifestações como um disfarce a ataques contra a fronteira e tem advertido àqueles que se aproximam da cerca de que estão colocando suas vidas em risco.
Como aconteceu
Nesta sexta, centenas de palestinos seguiram a cinco acampamentos próximos da fronteira, um deles próximo à comunidade de Khuzaa, onde grupos menores de ativistas se aproximaram da cerca após o meio-dia. Em vídeos registrados pela Associated Press, protestantes queimavam grandes pilhas de pneus, fazendo com que a área ficasse coberta por fumaça preta e bloqueando a visão dos soldados de Israel. As tropas do outro lado da cerca usaram armas, bombas de gás lacrimogêneo, balas de borracha e canhões de água no confronto.
Mais tarde, o líder do Hamas em Gaza, Yehiyeh Sinwar, visitou o acampamento de Khuzaa e foi recebido como herói, cercado por centenas de seguidores que gritavam “Nós vamos a Jerusalém, milhões de mártires”. Sinwar disse à multidão que o mundo deve “esperar pelo nosso grande passo, quando romperemos as fronteiras e rezaremos em Al-Aqsa”, se referindo ao maior santuário muçulmano em Jerusalém. Esta foi a primeira vez em que o líder especificamente ameaçou romper a fronteira, algo que Israel afirmou que não permitirá sob nenhum preço.
Violência
Segundo militares israelenses, os manifestantes arremessaram explosivos e bombas através da fumaça e afirmaram que houve diversas tentativas de cruzar a fronteira – todas frustradas. As forças ainda disseram que foi necessário utilizar um grande ventilador para dispersar a fumaça.
Mohamed Ashour, de 20 anos, foi um dos primeiros a atear fogo aos pneus e levou um tiro no braço direito. “Viemos aqui porque queremos dignidade”, afirmou, enquanto aguardava ser transportado para o hospital principal de Gaza. O estudante Yehia Abu Daqqa, de 20 anos, afirmou que foi ao protesto para honrar os mortos nos protestos anteriores. “Sim, temos medo”, disse, em relação aos riscos de avançar contra a cerca. “Estamos aqui para dizer que nós não somos fracos”, completou.
Planejamento.
O Hamas havia anunciado que o último protesto, planejado para o dia 15 de maio, será a “Grande Marcha do Retorno” de refugiados palestinos e seus descendentes, dando a entender que tentariam entrar em Israel, mas o grupo parou de ameaçar uma violação em massa da fronteira.
O porta-voz dos militares israelenses, Tenente Coronel Jonathan Conricus, descreveu os protestos como “tumultos” e disse que os líderes do Hamas estão tentando usar os atos para “colocar terroristas dentro de Israel”. “Se eles estão ativamente atacando a cerca, estão atirando coquetéis molotov contra as tropas israelenses ou ações semelhantes, então essas pessoas, esses arruaceiros, podem se tornar alvos”, afirmou.
O escritório de Direitos Humanos da ONU afirmou que tem indícios de que as forças israelenses utilizaram “força excessiva” contra os palestinos na última semana. Grupos de direitos humanos têm considerado o uso de força letal contra manifestantes desarmados ilegal.
Um enviado da Casa Branca pediu aos palestinos para que fiquem longe da cerca. Jason Greenblatt disse que os Estados Unidos condenam “pessoas que pedem violência e enviam os manifestantes – incluindo crianças – à cerca, sabendo que serão feridos ou mortos”.