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Pivô de caso Odebrecht na Colômbia não foi envenenado, dizem legistas

Médicos legistas colombianos anunciaram nesta sexta-feira, 16, que não foram encontrados traços de cianureto nos restos de Jorge Enrique Pizano, testemunha-chave do processo contra a Odebrecht na Colômbia. Pizano era uma testemunha-chave na investigação do caso envolvendo os subornos pagos pela Odebrecht para conseguir a licitação para a construção da Estrada do Sol II, que liga o centro ao norte da Colômbia.

A Procuradoria ordenou que os restos cremados de Pizano fossem examinados depois que o filho dele, Alejandro Pizano Ponce de León, que acabara de voltar da Espanha para o funeral do pai, morreu envenenado com cianureto. Investigação descobriu que o veneno estava em uma garrafa de água no criado-mudo pai. A morte no dia 8 de Pizano, que tinha câncer, tinha sido atribuída a um enfarte.

O diretor do Instituto Médico Legal da Colômbia, Carlos Eduardo Valdés, disse que a morte de Pizano foi causada por um ataque cardíaco. “Os testes foram feitos em dois laboratórios em paralelo que não se comunicam entre si, de modo que os resultados são 100 por cento confiáveis”, disse Valdes.

Seu corpo foi cremado pouco após a morte, mas as autoridades usaram amostras de tecidos usados na autópsia de Pizano após sua morte. “Foram coletadas várias amostras de tecido, e usamos estas amostras para chegar aos resultados”, afirmou Carlos Valdez, diretor do Instituto Médico Legal da Colômbia, ao jornal El Tiempo.

Segundo especialistas, a substância poderia causar a morte de uma pessoa ou desencadear um ataque cardíaco, que era a suspeita da promotoria. A procuradoria também tenta entender o que uma garrafa de água com cianeto estava fazendo no escritório do engenheiro em sua fazenda, que fica em Subachoque, próximo a Bogotá.

Na segunda-feira, o Noticias Uno publicou uma entrevista gravada em agosto com Jorge Pizano. Ele tinha pedido que a entrevista e documentos fossem publicados caso ele morresse ou saísse do país.

Na entrevista, Pizano acusou o procurador-geral da Colômbia, Néstor Humberto Martínez, de ter conhecimento de irregularidades na licitação para a construção da Rota do Sol II desde 2015, quando era advogado do Grupo Aval, da qual fazia parte a Corficolombiana, ex-sócia da Odebrecht no projeto.

O Grupo Aval divulgou um comunicado após a morte de Pizano, dizendo que as alegações “não eram novas” e não poderia ser provado que a Corficolombiana havia suspeitado que a Odebrecht estava agindo ilegalmente no início de 2015.

Na sexta-feira, 16, a Odebrecht considerou “questionável” a informação de que a Corficolombiana desconhecia o pagamento de subornos no contrato para a construção da Rota do Sol II.

“Em suas declarações tornadas públicas recentemente, o doutor Jorge Enrique Pizano fez menção de que havia informado na época sobre essas irregularidades, além de outros executivos da Corficolombiana”, afirmou a companhia em comunicado.

A construtora acrescentou que há ainda investigações em curso que envolvem a Corficolombiana, pela qual “ainda é questionável o comunicado” da empresa dizendo desconhecer o fato antes de 21 dezembro de 2016.

Nesta data, o Departamento de Justiça dos EUA publicou documentos segundo os quais a Odebrecht pagou os US$ 788 milhões em subornos na América Latina e África.

A empresa afirmou ainda que colabora com as autoridades colombianas, americanas e brasileiras. “A Odebrecht e seus funcionários, apesar da significativas consequências que isso trouxe, foram às autoridades assumir as responsabilidades que lhes correspondiam, indenizar o Estado colombiano e denunciar fatos como aqueles que têm a ver com as circunstâncias que cercaram a adjudicação do contrato da Rota do Sol II.”

Advogado de empresa envolvida no caso

Agora, o caso recolocou o escândalo da Odebrecht no centro do debate político colombiano apenas 100 dias depois da posse do presidente Ivan Duque. A morte do pai e do filho também provocou pedidos de renúncia no Congresso do procurador-geral Néstor Humberto Martínez, no cargo desde 2016, que se declarou impedido de investigar denúncias relativas à construtora.

O procurador atuou como advogado da empresa Corficolombiana, sócia minoritária da Odebrecht na construção da chamada Ruta 2, estrada que liga o centro da Colômbia ao Caribe e subsidiária do Grupo Aval, uma das maiores empresas do país.

Como controlador contratado pela Corficolombiana, Pizano relatou a Martínez pagamentos suspeitos em contratos feitos na Colômbia e no exterior, mas segundo ele, o caso não foi levado adiante dentro da empresa. O contrato custou, ao todo, US$ 2,5 bilhões.

Pizano, que sofria de câncer linfático, morreu de enfarte em sua casa na quinta-feira. Nos últimos meses, ele se dizia traído por Martínez depois que a procuradoria abriu uma investigação relacionada a sua atuação como advogado da Empresa Acqueduto de Bogotá, em uma obra de saneamento em Tunjuelo.

O procurador diz que recebeu Pizano “como amigo” e encaminhou os documentos apresentadosa por ele a seus superiores, mas que o próprio Pizano disse a época que não sabia com certeza que os pagamentos se tratavam de propina.

“Perguntei a Pizano se podia assumir que havia propinas, e ele me respondeu que não tinha certeza. Uma das hipóteses que ele contemplava era que se tratava de propinas pagas a paramilitares. A dúvida explica a razão pela qual ele não apresentou nenhuma denúncia às autoridades”, afirmou o procurador-geral da Colômbia. Ele disse também que só soube que as descobertas de Pizano tinham ligação com as propinas pagas pela Odebrecht em 2017.

“Me tornei desconfortável para várias pessoas”, disse ele na entrevista gravada para a Notícias Uno, meses antes de sua morte.

Em comunicado, o Grupo Aval, que controla a Corficolombiana, disse que está cooperando com as investigações e as alegações de Pizano não são novas, além de não haver, nos papéis indicados por ele, indícios de pagamento de propinas. A empresa também disse ser uma vítima da Odebrecht e rejeitou qualquer alegação que sabia de antemão do pagamento de subornos.

O Grupo Aval é uma das maiores empresas da Colômbia. O conglomerado reúne bancos e empresas de infraestrutura e é controlado por Luis Carlos Sarmiento, cuja fortuna é estimada em US$ 11,1 bilhões e é considerado o sexto homem mais rico da América Latina. Com agências internacionais

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