Sob pressão interna e externa, o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, sugeriu ontem uma reunião com o presidente dos EUA, Donald Trump. Desde que o republicano assumiu a Casa Branca, membros do regime chavista são alvo de sanções e processos na Justiça americana. O cerco se fechou ainda mais depois que Maduro assumiu seu segundo mandato, no dia 10.
Segundo o líder chavista, seu governo é composto por gente com quem se pode falar e negociar. “Sei que somos pessoas muito diferentes, presidente Trump. Somos países diferentes, mas estamos no mesmo hemisfério e, mais cedo ou mais tarde, seremos obrigados a falar, a nos entender”, disse Maduro, em entrevista à rede de TV Univisión. “Tomara que haja a oportunidade de um diálogo franco, direto, cara a cara, para que você veja que (a Venezuela) não é o que dizem a você nos relatórios.”
Não é a primeira vez que o presidente venezuelano se propõe a dialogar com o governo americano. Em ocasiões anteriores, a Casa Branca chegou a enviar emissários a Caracas, ainda durante a presidência de Barack Obama, mas o diálogo foi infrutífero.
“Acho que você herdou erros de governos anteriores, incluindo o de Obama. Erros na política externa para a América Latina. Acho que há uma ideologização da política externa americana contra a Venezuela”, afirmou Maduro. “Podemos falar de todos esses temas”, continuou, estendendo o convite ao secretário de Estado americano, Mike Pompeo, para que vá à Venezuela.
Nos últimos dias, em diferentes oportunidades, Washington deu seu “firme apoio” à Assembleia Nacional, considerada pelos EUA como “único órgão democrático legítimo” na Venezuela.
Enquanto Maduro tentava escapar do isolamento diplomático, a oposição venezuelana deu prosseguimento ontem à estratégia de se aproximar de setores das Forças Armadas descontentes com ochavismo. Em reuniões abertas, deputados da Mesa da Unidade Democrática (MUD), que reúne os principais grupos de oposição, pediram aos militares que rompam com o chavismo. “Não queremos brigar com os militares, queremos que eles cumpram a Constituição”, disse o deputado Wiston Flores. “Maduro é um usurpador e é dever dos militares tirá-lo do poder.”
Para o opositor, as últimas semanas têm demonstrado que há uma ruptura nas Forças Armadas, principalmente em razão da detenção do presidente da Assembleia Nacional, Juan Guaidó. Mais de 20 reuniões foram organizadas ontem na Venezuela como preparação para uma grande manifestação contra Maduro convocada para o dia 23. “Haverá na ocasião uma mensagem muito forte para os militares”, disse Flores.
Vídeos divulgados em redes sociais nos últimos dias mostraram venezuelanos diante de quartéis pedindo aos soldados que “se unam” à luta. A cúpula castrense, no entanto, beneficiada pelo comando de empresas estatais e altos cargos na burocracia de governo, além de denúncias de contrabando e narcotráfico, segue leal a Maduro. Como parte do pacote de aproximação, a oposição prometeu anistiar civis e militares que ajudem a “restaurar a ordem constitucional”.
Mais médicos
Ontem, Maduro anunciou que 2 mil médicos cubanos que abandonaram o Brasil chegarão à Venezuela na semana que vem. “O fascismo brasileiro encerrou o projeto de saúde e os 2 mil médicos estão vindo para a Venezuela”, afirmou o líder chavista, em mais uma referência ao presidente brasileiro, Jair Bolsonaro. No ano passado, Brasil e Cuba encerraram a parceria e cerca de 8,5 mil médicos retornaram à ilha. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo. (com agências internacionais)