Alguns líderes da oposição venezuelana já falam publicamente em uma transição que inclua autoridades chavistas e militares, depois de a oferta de anistia combinada com a pressão pela entrada de ajuda humanitária provocou poucas deserções na cúpula das Forças Armadas. Nos últimos dias, o vice-presidente do Parlamento, Stalin González, e o representante diplomático do líder opositor Juan Guaidó nos EUA, Carlos Vecchio, deram declarações nesse sentido.
A pouca probabilidade de a Casa Branca recorrer a uma intervenção militar e o forte apoio ao chavista Nicolás Maduro de China e Rússia, que têm investimentos na Venezuela, assim como as ressalvas da União Europeia ao modo como os EUA têm articulado a mudança de regime, também contribuem para uma transição negociada, segundo analistas consultados pelo Estado.
Na quinta-feira, González, do partido Um Novo Tempo, disse ser a favor de o chavismo e os militares terem papel na transição. Para ele, a oposição deveria apresentar uma candidatura única em eleições democráticas monitoradas internacionalmente, com o chavismo entre as forças políticas habilitadas a disputá-las.
Vecchio, um dos líderes do partido Voluntad Popular, ao qual pertencem Guaidó e seu padrinho político, Leopoldo López, disse que esse papel pode ser desempenhado pelos deputados chavistas eleitos para a Assembleia Nacional, de maioria opositora.
“Temos de resgatar a convivência democrática”, disse Vecchio em debate promovido pela revista digital Efecto Cocuyo. “Os chavistas podem construir a transição a partir da Assembleia. A base chavista não pode pagar pela corrupção da elite madurista.”
A mudança de tom se explica pela pequena adesão da cúpula militar a Guaidó. Até agora, apenas um general e dois coronéis romperam com Maduro. Os mais de 2 mil generais comandam setores importantes da economia, como a PDVSA, a extração de ouro e a distribuição de alimentos.
“Ficou claro que a oposição precisa de um plano B. É por isso que muitos já falam da necessidade de novas eleições, até mesmo com o reconhecimento por parte da oposição de que a transição terá de envolver o chavismo”, disse ao Estado Geoff Ramsey, especialista do Washington Office on Latin America. “Você tem de oferecer algo ao regime além da anistia. Por isso, é positivo que a oposição considere este cenário.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.