O primeiro bimestre de 2017 foi o mais violento dos últimos cinco anos no Estado do Rio, segundo dados do Instituto de Segurança Pública (ISP), ligado à Secretaria de Estado de Segurança do Rio. Depois de um ano em alta, apesar dos investimentos na área da segurança em decorrência da Olimpíada, a criminalidade segue descontrolada. Em janeiro e fevereiro passados, a chamada letalidade violenta, que abarca homicídio doloso, roubo seguido de morte, lesão corporal seguida de morte e mortes decorrentes de ação policial, subiu 26,6%, na comparação com o mesmo período do ano passado.
A séria histórica do ISP mostra que esses crimes vinham em tendência de queda havia uma década. Houve reversão na curva de registros por 100 mil habitantes em 2014 ante 2013 (34,7 registros por 100 mil habitantes, ante 32,7) e novamente em 2016 ante 2015, desta vez de forma mais expressiva (37,6 ante 30,3). Os incidentes incluem áreas que têm Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs), programa presente em 38 favelas que faz 10 anos em 2018 em meio a uma crise de confiança.
Os casos mais dramáticos deste ano envolveram duas crianças. Um foi o da menina Sofia Braga, de 2 anos, atingida quando brincava em um parquinho em Irajá, na zona norte, em janeiro. Outro foi o de Maria Eduarda Alves, de 13, baleada no último dia 30 no pátio da Escola Municipal Jornalista e Escritor Daniel Piza, em Acari. Nos dois casos, tratava-se de perseguição da polícia a bandidos.
O ISP mostra que o número de mortos em operações policiais subiu 78% nos dois primeiros meses deste ano – de 102 para 182 -, em relação ao mesmo período de 2016. Os índices relativos à produtividade policial diminuíram. As prisões tiveram recuo de 33,2%; as apreensões de drogas, de 39,5%; e de armas, de 25,9%. Os dados são os mais recentes do instituto, vinculado ao governo do Rio.
O secretário de Segurança, Roberto Sá, não atendeu ao pedido de entrevista da reportagem. No fim do ano passado, ele reconheceu ao Estado que a crise financeira do Rio afeta o trabalho policial diretamente, uma vez que o atraso salarial desmotiva a tropa.
Paralisação. Os policiais têm tido prioridade no pagamento dos salários, mas ainda têm gratificações atrasadas a receber. Além disso, nem todas as faixas salariais receberam o 13.º salário de 2016. Pressionando pela regularização dos vencimentos, a Polícia Civil passou parte de janeiro, fevereiro e março atendendo só a casos de crimes graves. A paralisação foi suspensa há uma semana. O recrudescimento da violência é verificado também no aumento de mortes de policiais militares.
“Essa crise faz com que o policial na ponta se sinta coisificado, com a vida banalizada. É o pior momento da segurança pública dos últimos anos”, afirmou o fundador da ONG Rio de Paz, Antonio Carlos Costa. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.