Um mapeamento inédito que será lançado nesta sexta-feira, 28, mostra como evoluiu, nos primeiros 15 anos deste século, a cobertura e o uso do solo em cada pedacinho do Brasil. Outros monitoramentos feitos por satélite já mostram a evolução do desmatamento da Amazônia e da Mata Atlântica, mas pela primeira vez será possível ver as variações que vêm sofrendo, a cada ano, todos os biomas do País.
O trabalho, apelidado de MapBiomas, revela que os manguezais – sensível ecossistema costeiro que serve de berçário para espécies de peixes, crustáceos e moluscos – perdeu entre 2001 e o ano passado 20% de sua área, em parte por causa da expansão urbana.
O Pantanal, considerado o bioma brasileiro mais preservado, perdeu 13% da área nativa com a conversão de campos naturais, historicamente usados pela pecuária tradicional, por pastagens com grama exótica. Já o Cerrado sofreu redução proporcionalmente três vezes maior que a Amazônia.
A única boa notícia ficou por conta da Mata Atlântica. Bioma sistematicamente devastado desde o início da colonização do Brasil, e que hoje se espalha por apenas cerca de 12,5% de sua área original, teve um ganho de 2,5 milhões de hectares neste período, principalmente por causa de programação de restauração florestal e regeneração natural de áreas que foram abandonadas. É quase uma Bélgica recuperada.
O MapBiomas – resultado de um esforço de 18 instituições, entre ONGs, universidades e empresas de tecnologia, capitaneadas pelo Observatório do Clima – tem como objetivo mostrar como evoluiu a cobertura vegetal e o uso do solo neste começo de século.
Alimentando com imagens de satélite uma plataforma do Google chamada Earth Engine, a mesma que faz o Google Earth e o Waze, o grupo conseguiu identificar o que é cada pedaço (ou pixel) de 30 x 30 metros no Brasil – se é floresta, pasto ou cultivo agrícola, por exemplo.
“Temos um mapa para cada ano mostrando o que é cada um dos 9,5 bilhões de pixels do Brasil. Estamos contado uma história de cada um deles”, explica o engenheiro florestal Tasso Azevedo, coordenador geral do MapBiomas. Segundo ele, é o primeiro mapeamento do tipo em todo mundo.
A mágica, explica ele, é que a ferramenta permite uma classificação automatizada para identificar o que é cada pixel – o computador é treinado para identificar o que é cada local e se contou com um sistema de processamento gigante de 1 milhão de servidores do Google. Outros mapeamentos que existem com essa proposta trabalham com uma classificação visual e com uma capacidade de processamento muito menor, e, portanto, muito mais demorada.
A ferramenta, que estará disponível na internet para quem quiser trabalhar com esses dados, vai permitir calcular, por exemplo, a taxa de perda de cobertura florestal (primária e secundária) em todo o Brasil ao longo do período de 2001 a 2016. A expectativa é, com o tempo, ampliar esse banco de dados incluir mapas desde 1985, com atualizações anuais. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.