O discurso feito neste sábado, 20, pelo presidente Michel Temer foi contundente, mas, ao mesmo tempo, frágil, avalia o cientista político Marco Antônio Carvalho Teixeira, doutor em Ciências Sociais pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). “Como estratégia política, ele partiu para o ataque. A intenção do presidente foi desqualificar o interlocutor Joesley Batista e o áudio também, mas, em momento algum, ele se defendeu do fato de ter recebido o executivo fora da agenda e num horário praticamente clandestino”, analisou.
A estratégia adotada por Temer, de, em vez de tocar nos pontos da acusação, ir na fragilidade do adversário, é muito comum neste tipo de situação, afirmou Teixeira. De acordo com o cientista político, o presidente se apegou muito na questão dos áudios e do fato de a Procuradoria-Geral da República (PGR) não ter periciado a gravação. “Não acredito ter sido um pronunciamento suficientemente forte, mas, o que podemos dizer, no entanto, é que o Temer está vivo”, afirmou.
Segundo Teixeira, o enredo que envolve Temer se parece com o da ex-presidente Dilma Rousseff meses antes de ter sido tirada do cargo por meio do impeachment. “Ele já é um presidente com um padrão de apoio popular baixíssimo, de um dígito, completamente dependente do Congresso e com ameaça de cisão da base”, disse.
Conforme o cientista político, o custo da governabilidade poderá ficar mais alto com a saída recente do PSB e do PTN da base. “E, se o PSDB anunciar a saída também, o governo fica sem a menor capacidade de dialogar com o Congresso.”
Teixeira prevê que a abertura da agenda da Câmara, nesta semana, será de uma forma “confusa”. Além disso, ele ressalta que, no Senado, há o impacto do afastamento, pela Justiça, do senador Aécio Neves (PSDB-MG) do exercício do mandato. “Esta semana será uma semana de caos. A capacidade de prospecção política de Temer estará nula por este momento. O presidente está sendo investigado, esse é um peso gigantesco sobre ele.”