Começa em julho em três capitais o primeiro estudo brasileiro para avaliar entre adolescentes o uso da Profilaxia Pré-exposição (PrEP), medicamento que poderia reduzir o contágio de HIV. Feito em parceria do governo brasileiro com a organização Unitaid, o trabalho pretende avaliar a eficácia do tratamento entre jovens de 15 a 18 anos integrantes do grupo de maior risco, como garotos gays e bissexuais e mulheres transexuais. Os estudos feitos até agora avaliaram o impacto da profilaxia em adultos.
A pesquisa será conduzida em São Paulo, Salvador e Belo Horizonte. Segundo a diretora do Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais, do Ministério da Saúde, Adele Benzaken, afirmou que dois mil adolescentes serão acompanhados. “O estudo vai observar vários pontos: a adesão do grupo ao tratamento e, sobretudo, os efeitos que o uso contínuo do medicamento pode apresentar na população dessa faixa etária”, disse.
Pesquisas feitas até o momento indicam que a PrEP tem efeitos colaterais limitados entre adultos, como náuseas e, em alguns casos, alterações da função renal. “Mesmo diante da constatação do risco da alteração na função renal, não foi recomendada a interrupção do tratamento, por causa da proteção apresentada”, disse Adele.
O que pesquisadores vão avaliar nessa nova etapa é se essas reações se repetem na população mais jovem. “Mas, da mesma forma que adultos, a recomendação é de que as demais estratégias de prevenção não sejam interrompidas”, disse Adele. Isso significa não abandonar o uso de camisinha, fazer testes periódicos para HIV e, eventualmente, o uso da terapia pós-exposição, recomendada quando a pessoa enfrentou uma situação de risco de contágio, como relações sexuais desprotegidas.
Entre adultos, cinco estudos foram feitos no Brasil para avaliar se a PrEP poderia trazer benefícios. Os trabalhos foram conduzidos ao longo dos últimos cinco anos. A precaução se explica: o tratamento é ofertado para pessoas saudáveis de grupos considerados de maior risco para o HIV, mas saudáveis. Há, por isso, a necessidade de se avaliar até que ponto vale a pena essas pessoas se submeterem ao uso diário de remédios.
Os estudos apontados até agora indicam que a estratégia é válida para os grupos considerados de maior risco. No Brasil, são registrados 0,4 casos de HIV a cada 100 mil habitantes. Em alguns casos, no entanto, a taxa é mais expressiva, como pessoas que se prostituem e homens gays e bissexuais. Embora o risco seja alto entre dependentes químicos, a PrEP não será ofertada para o grupo.
“Isso será feito de forma indireta. Caso o profissional do sexo faça uso de drogas, o tratamento será ofertado”, completou. De acordo com Adele, dependentes químicos não foram incorporados por falta de estudos específicos com essa população.