Toronto Raptors e Boston Celtics estão cogitando não entrar em quadra pelo primeiro jogo da série melhor de sete das semifinais da Conferência Leste da NBA, marcado para esta quinta-feira, na "bolha" pertencente ao complexo da Disney, em Orlando. Os times colocaram o boicote em pauta como forma de apoiar novos protestos antirracistas, reavivados depois que a polícia do estado de Wisconsin atirou sete vezes pelas costas em Jacon Blake, um homem negro, em um ataque no último domingo.
As imagens de Blake sendo baleado por policiais ganharam as manchetes internacionais. Os policiais respondiam a um distúrbio doméstico. Segundo os advogados de Blake, o homem de 29 anos tentava separar uma briga entre duas mulheres. Ele foi conduzido pelos policiais até a porta de seu carro, onde levou sete tiros na frente de seus três filhos, que estavam no veículo. Está internado em estado estável segundo sua família. Toda a cena foi filmada por um morador e as imagens logo se espalharam nas redes sociais.
Astros da NBA como LeBron James, do Los Angeles Lakers, e Donovan Mitchell, do Utah Jazz, pediram justiça em suas redes sociais. Os jogadores consideram que a liga não está dando a atenção necessária à pauta antirracista e se sentem presos na bolha em Orlando, impossibilitados de agir. LeBron chegou a dizer que se sente aterrorizado, com medo, como homem negro.
"É traumatizante. Me sinto preso aqui. Viemos para a bolha com objetivo de espalhar uma mensagem e não está acontecendo. A gente sente que não esta fazendo nada de produtivo aqui dentro", afirmou o camaronês Pascal Siakam, uma das estrelas do Toronto Raptors, em entrevista à ESPN americana.
Os jogadores não estão contentes e entendem que o boicote seria uma maneira de dar visibilidade ao caso e ecoar os protestos antirracistas que novamente estão se espalhando pelos Estados Unidos. Houve uma primeira reunião na terça-feira e deve haver um novo encontro nesta quarta para definir o que será feito.
"No primeiro incidente que aconteceu há alguns meses, os rapazes puderam estar na linha de frente, ser vistos, estar em suas comunidades e em seus bairros", ressaltou Jayson Tatum, ala dos Celtics. "No momento é difícil porque estamos meio presos entre a decisão de algumas pessoas podem ir para casa, mas entendemos do que estamos renunciando por estarmos aqui. O trabalho que tantas pessoas tiveram para fazer tudo isso possível. Portanto, é uma decisão difícil", reconheceu o jogador.
A NBA foi palco de uma série de manifestações em apoia à luta contra discriminação racial. Jogadores se ajoelham durante o hino nacional, usam camisas com a expressão "Black Lives Matter" (Vidas Negras Importam, em tradução livre) e também estampam em seus uniformes mensagens de justiça social.
"Os jogadores estão profundamente desapontados com o fato de a mesma coisa acontecer novamente em um período de tempo relativamente curto", disse o técnico do Raptors, Nick Nurse, referindo-se ao assassinato de George Floyd pela polícia há três meses. "Eles querem ser parte da solução. Eles querem ajudar. Eles querem justiça. Eles querem que esse problema específico seja tratado de uma maneira muito melhor. Essa é a primeira coisa", acrescentou. As declarações foram dadas à ESPN americana.
"O boicote ao jogo surgiu para eles como uma forma de tentar novamente exigir um pouco mais de ação. E acho que é isso que eles realmente querem. Acho que há atenção suficiente e não há ação suficiente, e acho que é isso o que posso sentir nesta discussão", completou o treinador da franquia canadense.