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Diretório estadual do PSDB-SP não vota posição sobre Temer

Após uma intervenção política do governador Geraldo Alckmin e um discurso inflamado do prefeito João Doria, o diretório estadual do PSDB de São Paulo recuou e decidiu não tirar uma posição oficial sobre o desembarque do partido da administração Michel Temer (PMDB). Esse foi o segundo recuo do partido no Estado sobre o posicionamento, já que há duas semanas o PSDB deixou de emitir uma posição também por interferência de Alckmin.

A expectativa da reunião plenária convocada para a tarde dessa segunda-feira e que reuniu cerca de 200 pessoas, entre prefeitos, deputados, vereadores e lideranças na sede do partido na capital, era que os tucanos paulistas pedissem oficialmente que o partido entregasse os cargos no governo, o que ampliaria a pressão sobre a bancada federal tucana.

Preocupado com a repercussão do movimento, o presidente Michel Temer veio até São Paulo pedir ajuda do governador em uma reunião no Palácio dos Bandeirantes. Alckmin, por sua vez, realizou um jantar com prefeitos do partido para pedir cautela.

Ao longo do encontro, as lideranças se mostravam propensas a pedir o rompimento e se revezaram ao microfone em discursos acalorados. Entre os que defenderam o desembarque, estavam o deputado federal Carlos Sampaio, vice-presidente nacional jurídico do partido, o prefeito de São Bernardo do Campo, Orlando Morando, e o presidente estadual do PSDB, deputado estadual Pedro Tobias.

“O que ocorreu foi grave, não vamos tergiversar. O PSDB não pode ter uma ética de bambu, o episódio da JBS calou fundo aos brasileiros”, disse Sampaio. Na mesma linha, Orlando Morando fez um discurso ainda mais incisivo. “Eu tenho vergonha de apoiar esse tipo de governo. O PSDB não pode apoiar o presidente Temer em troca de cargo”, afirmou.

Em defesa da permanência do PSDB no governo, pelo menos até o final do julgamento do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que começa nesta terça-feira, discursaram o ex-senador José Aníbal, presidente do Instituto Teotônio Vilela, e parlamentares próximos ao governador, como o deputado federal Miguel Haddad. “Nós não queremos que no ano que vem prevaleça uma polarização salvacionista, Bolsonaro, Lula, que são um desastre para o Brasil”, disse Aníbal.

Durante a plenária, Tobias chegou a ser interpelado por Morando sobre qual seria afinal a posição do partido e respondeu a ele que levaria a Brasília a posição pelo rompimento. Terminado o evento, e após um discurso inflamado do prefeito João Doria contra o desembarque tucano, Tobias mudou de posição e irritou-se com jornalistas que insistiram em questioná-lo. “Me deixem em paz, vocês querem ver sangue. O PSDB não tem posição, vamos analisar amanhã”, falou.

Depois da plenária, Tobias permaneceu ao lado de João Doria durante uma entrevista coletiva, onde mais ouviu do que falou. “Há um trabalho conjunto com o prefeito e o governador? Lógico, estamos em sintonia com eles”, disse o presidente, destacando que, pessoalmente, é favorável ao desembarque, mas que não poderia “impor” sua opinião à legenda.

O prefeito João Doria não era esperado na reunião plenária do diretório estadual do partido, mas chegou a tempo de fazer o último discurso. Em sua fala, o tucano fez uma longa preleção antes de dizer que ao PSDB “não cabe tomar uma decisão agora”. “Nosso inimigo chama-se PT, partido que é inimigo do Brasil”, afirmou.

Em outro momento do discurso, defendeu enfaticamente que o partido aguarde o julgamento do TSE para que a legenda tome uma posição. “Não há razão para uma razão precipitada, após a decisão da Justiça tomaremos a decisão certa”, disse.

O discurso foi muito aplaudido e terminou com o Tema da Vitória do piloto Ayrton Senna, que é uma marca registrada de Doria. Para surpresa de muitos presentes, Tobias simplesmente decidiu não encaminhar uma votação entre os participantes. Em seguida, deu declarações contraditórias até, por fim, dizer que vai embarcar quinta-feira para Brasília para relatar o balanço da plenário.

Aos jornalistas, Doria reforçou que o PSDB deve esperar o julgamento no TSE. “Podemos esperar 48 horas, 72 horas, e tomar uma decisão acertada. Precipitar agora só contribuiria para prejudicar o Brasil, as reformas e a estabilidade do País”, afirmou. Ele negou, no entanto, que o partido esteja “em cima do muro” sobre a decisão. “Não é em cima do muro, nós temos uma defesa muito clara, que é a estabilidade.”

O prefeito destacou que, se o julgamento sofrer um pedido de vistas no TSE ou for arrastado por recursos, o PSDB deve se posicionar. “Tenho certeza que ninguém no TSE vai ter propensão a adiar uma decisão”, defendeu. “Cada dia a sua agonia. Se houver um adiamento nesse sentido, o PSDB evidentemente tem que tomar uma posição”, afirmou. Doria evitou dar uma posição na hipótese de o TSE cassar o presidente Temer. “Fazer análise sobre hipóteses agora não é um ato responsável”. (Daniel Weterman e Pedro Venceslau)

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