Em uma noite de chuva e marginais engarrafadas, o rapper Jordan Fields, de 30 anos, comemorava com um pulo a chegada de cada um de seus alunos. O sorriso de boas-vindas permaneceu durante as duas horas em que ministrou o curso Inglês na Quebrada, aberto por ele na semana passada, no Jardim Dionísio, distrito de Jardim Ângela, zona sul de São Paulo.
Nascido na periferia de West New York, em New Jersey, o norte-americano aponta três nomes como seus principais professores de português: Racionais Mcs, RZO e Sabotage. Segundo o músico, conhecido como Bixop, o interesse pelo rap brasileiro começou em 2014, quando estava cansado das produções recentes do gênero.
“O rap brasileiro me salvou. Fui aprendendo mais e mais. Queria vir aqui, ver, fazer parte disso”, diz.
Segundo ele, a primeira canção que ouviu foi Nego Drama, dos Racionais Mcs. “Quando fui traduzir a letra, fiquei impressionado. Percebi que a realidade da favela no Brasil era a mesma da de lá (nos EUA)”, relembra.
Bixop, então, gravou covers em seu canal no YouTube. A versão de O Trem, do RZO, obteve 192 mil visualizações, e o colocou em contato com artistas brasileiros, entre eles a cantora Lena Silva, com quem se casou em 2016. Esse foi, aliás, o motivo de sua vinda para o Brasil. Hoje, o casal mora no Capão Redondo, na zona sul.
Agora, ele faz o caminho inverso: usa a música norte-americana para ensinar inglês a moradores da periferia paulistana. “Brasileiros ouvem música mesmo sem saber o que estão cantando. Quando eu passo na aula, falam, ah, é isso”, comenta.
Renda
O rapper costuma dizer que “a música está sempre com ele”, mas, por causa da renda, deixou a carreira artística um pouco de lado para trabalhar como professor em bairros nobres, como Pinheiros e Cerqueira César.
Com a experiência, quis oferecer a jovens da periferia, como o cantor e dançarino Jonny Keelthy, de 26 anos, a mesma oportunidade. Keelthy, por exemplo, quer melhorar a pronúncia para gravar em inglês. O rapper já tem cinco turmas, totalizando 40 alunos, que pagam R$ 65 mensais. “Ele tem muita vontade de ensinar. E não só de ensinar, mas de fazer a diferença onde mora”, conta a aluna Eliene de Souza, de 26 anos. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.