Servidores estaduais do Rio de Janeiro não recebem os salários integralmente há meses – no meio de agosto, ainda há quem não tenha recebido todo o salário de junho. A Universidade do Estado do Rio (Uerj) suspendeu as aulas por falta de recursos e não tem previsão de retomada. Os policiais não receberam horas extras, e os hospitais sofrem por falta de insumos básicos. Mas só neste ano a Assembleia Legislativa do Rio (Alerj) já gastou R$ 25 milhões na reforma do Edifício Lucio Costa, onde passará ser sediada.
O custo total da obra é estimado em R$ 152 milhões – valor suficiente para quitar três meses de salários dos 8.560 funcionários ativos da Uerj. Eles não recebem seus vencimentos desde maio, assim como o 13º salário de 2016. No dia 14/07, foram pagos R$ 550 referentes a maio e no dia 3/08 foram quitados os salários para os servidores que recebem até R$ 1.550 líquidos. A folha consome R$ 50,6 milhões por mês, segundo dados da Secretaria Estadual da Fazenda.
A Casa também reforma sua atual sede, um prédio dos anos 20 que abrigou a Câmara dos Deputados até a mudança da capital para Brasília, em 1960, e virará centro cultural. Essa obra custará mais R$ 19,4 milhões.
Atualmente, além do Palácio Tiradentes, onde fica o plenário, o Legislativo estadual tem o prédio anexo destinado aos gabinetes dos deputados e um edifício na Rua da Alfândega. Esse, onde ficam os departamentos administrativos da Alerj, será repassado ao governo estadual, como pagamento pelo Edifício Lucio Costa.
A decisão de gastar dinheiro com a nova sede para a Alerj, foi tomada em outra época. Seu padrinho foi o ex-prefeito Eduardo Paes (PMDB), que, em meio às obras de reforma da zona portuária, começou a se opor ao edifício destinado aos escritórios dos parlamentares.
O então prefeito achava o prédio quadrado e espelhado, de seis andares, não combinava com a nova paisagem, vislumbrada após a derrubada da Perimetral. Com fachadas de mármore e sem estilo definido, o edifício fica atrás do imponente Palácio Tiradentes e perto de construções antigas, como o Paço Imperial, e a poucos metros do mar.
O edifício escolhido também é conhecido como “Banerjão”. Foi erguido nos anos 60 e pertencia ao Banco do Estado do Rio de Janeiro (Banerj), privatizado há duas décadas. Uma equipe de engenheiros avaliou a construção de 22 mil metros quadrados de área utilizável, 32 andares e três subsolos. Uma reforma seria inevitável, devido a problemas estruturais.
O gasto inicial da reforma já era alto: R$ 139,5 milhões. Pouco depois, a obra foi reajustada em R$ 8,9 milhões e passou para R$ 148,4 milhões. Além disso, teriam de ser gastos mais R$ 4,057 milhões “em assistência técnica de fiscalização das obras”, não incluídas no orçamento inicial. Isso elevaria o custo para mais de R$ 152 milhões.
A Assembleia informou que as obras são financiada com recursos do Fundo Especial do Legislativo, “fruto de oito anos de economias feitas pela Casa”. Questionada se esse seria o momento apropriado para fazer as obras, a Assembleia respondeu que “está com as contas em ordem, graças a ajustes feitos no início dessa legislatura”. Afirmou ainda que “também tem feito a sua parte para ajudar a combater a grave crise que atinge o Rio”. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.