As tragédias nos tocam mais profundamente quando, de alguma maneira, nos são próximas. O naufrágio da lancha Cavalo Marinho 1 durante a travessia Mar Grande-Salvador, na quinta-feira, por exemplo, me deixou meio fora do ar. Mar Grande é o grande paraíso da minha infância e adolescência. Ali está grande parte de minhas melhores lembranças.
Faço essa travessia desde quando estava na barriga de minha mãe. Meu filho, hoje com 21 anos, também. Por diversas vezes a agradabilíssima viagem de cerca de 45 minutos cruzando a Baía de Todos os Santos foi feita naquela mesma lancha, cujos marinheiros eu chamava pelo nome.
Por isso a imagem do bebê de 6 meses nos braços do bombeiro que fez o resgate me é tão forte. Ele foi uma das 18 vítimas confirmadas até agora. Poderia (pode?) ser filho de um conhecido meu. Poderia ter sido meu filho. Poderia ter sido eu. Não sei se entre as vítimas estão conhecidos meus. Possivelmente, sim.
Desde pequeno ouço e vivencio histórias de travessias difíceis por causa do mar revolto feitas por lanchas superlotadas e malconservadas. Lembro de senhorinhas rezando nas viagens em que o mar entrava por um lado da embarcação e saía pelo outro, de tanto que balançava. Ainda não sei se a negligência foi a causa do acidente. Espero sinceramente que não. Porque, quando os tiver, desejo que meus netos também façam essa travessia com o mesmo amor que sempre fiz…
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.