Novos tipos de empresa estão exigindo novas formas de se administrar. Em uma época em que um dos maiores disseminadores de notícias, o Facebook, não as produz; uma das maiores empresas de hospedagem, a Airbnb, não possui hotéis; e um dos maiores serviços de transporte, o Uber, não tem nenhum carro, as faculdades de administração têm alterado os currículos para fazer frente aos desafios de um mundo dos negócios cada vez mais virtual. E também cada vez mais desconhecido.
“Anteriormente o profissional era formado para atender às demandas do momento. Hoje, temos de preparar para uma realidade que desconhecemos”, diz Arthur Motta, professor da Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado (Fecap). Segundo ele, o mundo está mudando tão depressa que não adianta mais montar um currículo pensando no que já existe. “Forneço ferramentas e fontes para que o estudante possa atualizar-se sempre. Ele tem de ser provocado a conhecer as novas realidades que virão a existir, os próximos passos da virtualização do mundo.”
Na prática da sala de aula, isso implica reconfiguração do papel do professor e do aluno. “O docente precisa criar um ambiente desafiador e conduzir para a reflexão. O aluno deve assumir uma postura mais ativa, pesquisar e tirar as próprias conclusões”, explica Motta.
Como administradores de empresas de qualquer setor, Thiago Gouveia, de 28 anos, usa na rotina profissional uma série de ferramentas virtuais. Em seu caso, as videoconferências são extremamente comuns. Com base em São Paulo, conduz projetos em toda a América Latina. “Em vez de ir para uma sala de reunião, faço uma videoconferência. A tecnologia diminui o custo e dá mais agilidade. Até para resolver conflitos dá para fazer a distância”, garante.
No entanto, reconhece que em alguns momentos o olho no olho é indispensável. “No contato presencial você cria uma conexão que facilita as trocas. Quando vou lançar ou finalizar um projeto, eu viajo. Até porque ficar um dia inteiro olhando para uma tela é ruim”, afirma.
Além de usar ferramentas tecnológicas do seu dia a dia, Gouveia é gestor em uma das maiores empresas de internet do mundo, o que implica um ambiente de trabalho extremamente dinâmico. “Nas empresas de internet, é esperado que você seja dono do seu processo do início ao fim”, conta. Para ele, essa forma de trabalho é mais interessante do que a tradicional. “Tive passagens por duas empresas tradicionais, mas não me adaptei à cultura. Elas têm mais formalidade e uma hierarquia rígida.”
Da faculdade, o que traz na bagagem até hoje é algo que nenhuma mudança tecnológica vai ser capaz de tornar supérfluo: o pensamento lógico que o leva a resolver problemas. “O que fez a diferença foi aprender a resolver problemas, a parte de lógica, de teoria da decisão. Eu me defino profissionalmente como uma pessoa que resolve problemas. Estou no RH, mas comecei no suporte, já fui para vendas e outros projetos”, diz Gouveia, que se formou em 2012 na Fecap.
Mão na massa
Enquanto o mundo dos negócios se virtualiza a cada dia, as faculdades buscam dar aos alunos cada vez mais contato com a realidade, promovendo experiências concretas. “Houve um esgotamento da abordagem voltada para a acumulação teórica sem vínculo com a prática”, afirma o coordenador da graduação em Administração da Fundação Getulio Vargas (FGV), Renato Guimarães. “O ensino não pode perder o rigor intelectual, mas o jovem quer saber como aplicar no aqui e agora.”
Isso significa que um bom curso deve oferecer projetos aplicados, pesquisas de campo, parcerias com empresas e abertura para propostas que partam dos estudantes. “A gente tem uma aceleradora de novos negócios e todo um ecossistema de empresas júnior. Além disso, promovemos uma cultura de participação dos alunos. Eles estão representados em todos os órgãos colegiados, assim como podem criar grupos de fomento, como os que defendem direitos LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais e Travestis, Transexuais e Transgêneros). Vemos as pessoas se tornando protagonistas da sua formação”, diz Guimarães.
Ao lado dos colegas, Rodrigo Laham, de 25 anos, ajudou a criar dentro da FGV o A-Lab, um laboratório de inovação inspirado em modelos internacionais. A entidade faz consultorias para público externo e também trabalha com projetos em disciplinas da própria faculdade. “O aluno precisa entender que ele tem de ir atrás da sua formação. A faculdade vem se desenvolvendo, os professores se atualizam, mas se o estudante quiser se focar em finanças, pode formar-se de forma tradicional, sem contato com as inovações do mundo da tecnologia”, afirma Laham, que está no último semestre do curso de Administração.
Para Laham, que sempre gostou da área de informática, o universo digital é tanto uma possibilidade de negócios em si – ele dá consultorias de TI para pequenas empresas e pessoas – quanto uma necessidade geral para o administrador. “A partir do momento em que a empresa cria uma página na internet, já é uma empresa global. Com um público potencial imenso, cria-se a necessidade de comunicação com uma gama muito maior de pessoas.”