O secretário estadual de Segurança Pública do Rio de Janeiro, Roberto Sá, admitiu nesta terça-feira, 19, que a polícia falhou ao não conseguir impedir a invasão da Favela da Rocinha, na zona sul da capital, por traficantes de outras comunidades. Em entrevista ao RJTV, da TV Globo, ele disse também que foi surpreendido pelas declarações do ministro da Defesa, Raul Jungmann, de que há dificuldade nas comunicações entre os governos federal e estadual para o combate conjunto à violência.
As tropas federais que desde 5 de agosto fazem operações neste sentido poderão ser acionadas para auxiliar na Rocinha.
“Eu cobrei do comandante geral o que pode ter acontecido. Havia a notícia da inteligência sobre essa instabilidade, racha na facção. Houve reforço, e ele confirmou que foi insuficiente, ou que houve falha na operacionalização. Isso já foi identificado por ele”, afirmou Sá. “Se não foi possível evitar a entrada (de traficantes), houve equívoco. Foi reconhecido pelo comandante, o que não tira o mérito do que eles fazem no dia a dia para a proteção da sociedade.”
Bandidos entraram no morro na madrugada de domingo, 17, e houve tiroteio de cinco horas de duração. Três homens que seriam traficantes morreram, e três moradores ficaram feridos. O confronto foi entre bandidos da facção Amigos dos Amigos (ADA), que lutam pela hegemonia na favela.
Vídeos divulgados nas redes sociais mostram viaturas da PM paradas, enquanto os bandidos fugiam. A PM informou na segunda-feira, 18, que não agiu com mais força para acabar com o confronto porque a intervenção poderia vitimar moradores.
O secretário assegurou que a polícia não deixará a Rocinha. “Precisamos resgatar a paz para os moradores, causar o mínimo de transtorno possível. Posso garantir à população da Rocinha que a PM vai ficar por tempo indeterminado. Mesmo com a escassez de recursos, vamos aumentar (o contingente) se for necessário. A Polícia Judiciária (Civil) está identificando e fará prisões”, declarou. “O Estado está se mobilizando e vai permanentemente se colocar junto à sociedade. O Estado não vai faltar nesse momento. Não vamos sair de lá enquanto a situação seja resolvida.”
Sobre Jungmann, que afirmara que estão ocorrendo problemas de comunicação, ele disse: “A declaração do ministro me surpreendeu. É óbvio que sempre precisa haver ajustes, mas não há nenhum ruído. A comunicação com o ministro é muito boa; com o comandante militar do Leste, melhor ainda, nos falamos quase diariamente. As Forças Armadas têm uma maneira de serem empregadas, e sempre respeitamos. Sempre que temos mandados de busca e apreensão, comunicamos. Fazemos reuniões para planejamento de outras operações. Quero deixar claro para a sociedade fluminense: a relação é a melhor possível.”
O jornal O Estado de S. Paulo tentou entrevistar Sá sobre as relações com o governo federal na sexta-feira, 15, e na segunda-feira, mas a resposta foi negativa.
O Ministério da Defesa cogitou suspender a Operação O Rio Quer Segurança e Paz devido a desentendimentos com a Secretaria de Segurança do Rio. O chefe da Polícia Civil, Carlos Leba, chegou a dizer que as Forças Armadas estariam atrapalhando o sucesso das operações integradas, pelo fato de o modo do órgão atuar ser diferente, e Sá disse que preferia ajuda financeira à ação das forças federais. Essa fala também foi mal recebida pelos militares.
A última operação realizada em parceria entre as forças de segurança federais e as Polícias Civil e Militar do Rio ocorreu em 21 de agosto. Durante as três ações realizadas até agora, não chegou a ser apreendido um fuzil sequer.