Horas depois de o governador Luiz Fernando Pezão (PMDB) afirmar não ser necessário o auxílio das Forças Armadas para conter a violência na Rocinha, a Secretaria de Estado da Segurança solicitou o apoio das Forças Armadas para patrulhar 103 pontos da região metropolitana. O Ministério da Defesa não apresentou posição final a respeito, mas a solicitação escancara a crise na relação entre forças estaduais e federais de segurança.
A secretaria alega ter levado em consideração afirmação do ministro da Defesa, Raul Jungmann, na terça-feira, 19, de que estaria aberto a “fazer cerco a comunidades e ações de rua”. Consultado nesta quarta-feira, 20, o ministro afirmou que só analisará o pedido após recebê-lo. Mas afirmou que o “ministério não autoriza nem nega”. “Quem pode negar é, privativamente, o presidente da República. Está na Constituição.”
A secretaria se manifestou pelo Twitter, à noite. Na postagem diz que “após a @DefesaGovBr (perfil do Ministério da Defesa) expressar a inexistência de qualquer limitador financeiro ou operacional para emprego das Forças Armadas no RJ, a @SegurancaRJ (perfil da Secretaria de Segurança do Estado) enviou um ofício ao @GovRJ (perfil do governo do Estado) solicitando o patrulhamento das Forças Armadas em 103 pontos da região metropolitana”. Segundo a Secretaria de Estado, esses pontos não serão divulgados.
O Comando Militar do Leste, responsável pelas Forças Armadas na Operação Rio Quer Segurança e Paz, informou na quarta à noite que ainda não recebera nenhuma solicitação de patrulhamento. A Secretaria de Segurança iria se reportar inicialmente ao governo do Estado, por intermédio de Pezão, para que o pedido fosse posteriormente enviado ao Ministério da Defesa.
Jungmann teria alegado na quarta, segundo a Globo News, que o patrulhamento das ruas não corresponde ao combinado para a operação. Na véspera, porém, em entrevista, Jungmann citou as patrulhas como algo que as Forças Armadas poderiam fazer.
Outros líderes militares ouvidos pela reportagem também avaliam que o pedido da secretaria não condiz com o acordo feito no começo da operação. O combinado é de que as tropas não fariam patrulhamento ostensivo, mas ações pontuais, fundamentadas em informações obtidas pelo setor de inteligência, para combater a infraestrutura das facções criminosas.
Conflito
O desencontro entre a Secretaria de Segurança e o ministério se agravou na semana passada. O governo federal cogitou suspender a cooperação com o Rio, segundo a reportagem apurou, por declarações do comando das forças locais de que preferiam ajuda financeira ao envio de tropas. Depois disso, Jungmann disse que há problemas de comunicação. E foi rebatido pelo secretário de Segurança, Roberto Sá. “A comunicação com o ministro é muito boa; com o comandante militar do Leste, melhor ainda.”
Anunciada pelo governo federal como medida decisiva para combater a violência no Estado, a Operação O Rio Quer Segurança e Paz começou no fim de julho e previa ações conjuntas entre as Forças Armadas e as polícias do Estado. O clima inicial de total sintonia logo desapareceu. A última operação em parceria foi em 21 de agosto. Nas três ações feitas até agora não foi apreendido nenhum fuzil, o que motivou mais críticas aos militares. No total, 88 pessoas foram presas nessas operações. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.