Menos de um ano após fracassar nos Jogos Olímpicos e deixar a piscina do Estádio Aquático do Rio sem uma única medalha, a natação brasileira conseguiu sua redenção. Ao todo, o Brasil conquistou cinco medalhas em Budapeste nesta modalidade. Entre as mulheres, pela primeira vez uma brasileira conquistou um ouro em Mundiais de piscina longa. Com os homens, a equipe do 4x100m masculino recolocou o País no pódio após 23 anos em uma disputa de revezamento da principal competição da Federação Internacional de Natação (Fina).
Assim, o caminho aos Jogos de Tóquio-2020 começou, ao menos, promissor. E, em relação à última edição no Mundial, o número total de medalhas na piscina aumentou – foram apenas quatro em Kazan-2015. Além disso, a cor delas também mudou: há dois anos, o Brasil encerrou o Mundial da Rússia com três pratas e um bronze. Agora, foram um ouro e quatro pratas.
O grande destaque este ano ficou por conta do feito inédito no feminino. O ouro de Etiene Medeiros nos 50 metros costas representou a primeira conquista brasileira em Mundiais realizado em piscina longa entre as mulheres.
No masculino, Bruno Fratus voltou a subir ao pódio e mostrou mais uma vez que é o nadador mais rápido do País. Ele integrou o quarteto que levou a prata no revezamento 4×100 metros livre e também conquistou o segundo lugar na final dos 50 metros livre.
Essas duas provas serviram para confirmar que Cesar Cielo também está recuperando a forma que o fez se consagrar como recordista mundial dos 50m e dos 100m e o levou ao ouro em Pequim-2008. Após fracassar no último ciclo olímpico e ficar de fora dos Jogos do Rio, ele voltou ao pódio de um Mundial (prata no revezamento) e também foi à final dos 50 metros livre.
“Ele teve um espetacular desempenho no revezamento, fez um tempo do qual há muitos anos ele não chegava perto”, lembrou Renato Cordani, diretor de natação da Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos (CBDA), em entrevista no último domingo ao Estado, exaltando também o peso que a presença de Cielo teve para o Brasil alcançar a prata no revezamento. “Ele tem essa liderança positiva, técnica, de ser o recordista mundial dos 50m e dos 100m, e estava exercendo essa liderança na prática, ajudando a fortalecer um time que tinha companheirismo.”
Com a prata do quarteto brasileiro, o Brasil voltou ao pódio de um Mundial de piscina longa em uma prova de revezamento, o que não conseguia desde 1994, quando Gustavo Borges, Fernando Scherer, Teófilo Ferreira e André Teixeira faturaram o bronze nos 4x100m livre em Roma.
Além dos medalhistas, o Brasil colocou outros cinco nadadores em finais individuais: Felipe Lima (50m peito), Marcelo Chierighini (100m livre), Henrique Martins (50m borboleta), Guilherme Guido (100m costas) e Brandonn Almeida (400m medley).
CRESCIMENTO – No quadro geral de pódios, o Brasil também cresceu. Foram sete em Kazan e oito agora, em Budapeste, onde comemorou sua segunda melhor campanha em número de medalhas, com dois ouros, quatro pratas e dois bronzes. Assim como acontecera em 2015, a maratona aquática ajudou a alavancar a posição do Brasil. Ana Marcela Cunha conquistou o tricampeonato na prova de 25 quilômetros, além de levar dois bronzes (10km e 5km).
No último domingo, dia final de disputas na Hungria, o Brasil não subiu ao pódio, mas foi à final do revezamento 4x100m medley com Guido, João Gomes, Henrique Martins e Chierighini e conquistou o quinto lugar, enquanto Brandonn Almeida avançou à decisão dos 400 metros medley e terminou na sétima posição.
“Você pode analisar um Mundial de várias formas, e neste Mundial o Brasil foi bem em todas elas. Cinco medalhas na natação em um Mundial nós só havíamos conseguido uma vez, em Barcelona-2013. A gente teve cinco medalhas, o que foi igualar um recorde, e uma delas foi do revezamento, o que mostra muito a força do nosso time”, ressaltou Renato Cordani, também valorizando a ida do time nacional à final dos 4x100m medley, prova na qual melhorou uma posição em relação à final olímpica do Rio-2016, no qual terminou em sexto lugar. “O revezamento quatro estilos não pegou medalha, mas disputou a medalha”, enfatizou.
NOVO CLIMA – O diretor de natação da CBDA também exaltou que a nova gestão da entidade – que mudou após a prisão do seu ex-presidente Coaracy Nunes e de outros dirigentes em um escândalo de corrupção no qual foram acusados de desviar R$ 40 milhões em recursos da entidade – tornou o clima mais leve para que os nadadores pudessem buscar resultados mais expressivos dentro da piscina.
“Além do ponto de vista da conquista das medalhas, conseguimos a volta do Brasil como um time, o que ficou claro com a equipe do revezamento 4x100m, e também resgatamos a volta da atitude da seleção. Quase todo mundo da seleção nas entrevistas estava mencionando os companheiros e não pensando apenas no seu sucesso pessoal”, disse Cordani, para depois lembrar que essa união foi fundamental para que o País subisse ao pódio em um Mundial após mais de 20 anos.
“Pra você conseguir uma medalha de revezamento em um Mundial, todo mundo que entrar na água precisa melhorar meio segundinho o seu tempo, pois se não for assim não pega medalha. E foi o que aconteceu com a nossa equipe, que quebrou o recorde sul-americano para ganhar a prata e também brigar pelo ouro com os Estados Unidos”, ressaltou.
FORÇA PARA BASE – Após ver o Brasil voltar a ser protagonista e se redimir de fiascos, a CBDA agora mira fortalecer a sua base e, para isso, projeta massificar a prática da natação no País. Para a entidade, o fato poderia aumentar as chances de formar um maior número de campeões.
“Eu gostaria de formar uma seleção olímpica boa, com o efeito colateral de ter muita gente competindo. Se você aumenta a base, aumenta o número de atletas que vão aparecer. Como efeito colateral, você forma mais atletas olímpicos. Para um país para o Brasil, que é um país pobre, conseguir massificar a natação poderia ampliar o nível de atletas. E a cada seleção que a gente formar nas categorias de base, a gente vai tentar formar uma seleção para ganhar, para buscar medalhas”, projetou Cordani, que espera que a natação tenha mais praticantes e possíveis aspirantes a medalhistas da elite em mais estados brasileiros.
“Alguns estados tem um bom número de federados praticando. Somos 27 estados e a gente não espera que um estado menor e mais pobre tenha a quantidade de um estado como São Paulo, mas a gente percebe que no interior no País tem muito poucos praticantes. A gente está perdendo muita gente que não tem oportunidade e a ideia é formar atletas de nível em todo o País. Mas a gente está fazendo um levantamento sobre isso e há piscinas suficientes para isso, mas não precisamos apenas de piscinas. Também estamos capacitando treinadores e tentaremos fazer esse tipo de trabalho”, prometeu.