O presidente da CBF, Marco Polo Del Nero, anotava rigorosamente todos os detalhes sobre o pagamento de propina a dirigentes, por conta de negociação de direitos de transmissão de torneios de futebol. A acusação foi feita pelo argentino Alejandro Burzaco na última quarta, durante depoimento no Tribunal do Brooklin, em Nova York, no processo em que José Maria Marin, ex-presidente da CBF, é réu.
O empresário, ex-diretor da empresa Torneos y Competencias, e então envolvido nas negociações de direitos de transmissão de competições organizadas pela Conmebol, é réu confesso. Declarou-se culpado por crimes como fraude, lavagem de dinheiro e evasão de divisas, e tornou-se uma das principais testemunhas de acusação contra Marin. Já revelou, entre outros detalhes, ter pago R$ 524 milhões em propinas para cerca de 30 dirigentes de diversos países. Além de Marin e Del Nero, ele também já citou o ex-presidente da CBF Ricardo Teixeira.
Ao referir-se a Del Nero no depoimento de terça-feira, o empresário disse que o atual comandante do futebol brasileiro tinha até um caderno onde anotava os valores e destinatários de propina. Disse que Ricardo Teixeira recebia US$ 600 mil anuais por direitos de transmissão da Libertadores e da Copa Sul-Americana e que, meses depois de Marin assumir – em março de 2012, pois Teixeira renunciou em meio a denúncias de corrupção -, o valor da propina aumentou para US$ 900 mil, que Marin dividia com Del Nero.
Segundo o argentino, no final de 2014 ele foi procurado novamente por Del Nero, que solicitou que o valor da propina aumentasse para US$ 1,2 milhão, mas só a partir de meados de 2015. Isso porque ele assumiria a presidência da CBF em abril daquele ano, como de fato aconteceu, e não precisaria repartir mais o dinheiro com Marin.
A operação da Justiça suíça em parceria com a Justiça norte-americanas que resultou na prisão de vários dirigentes ligados à Fifa, entre eles Marin, ocorreu em 27 de maio de 2015.
Burzaco disse ao júri que sempre concordou com os aumentos, por recomendação do ex-presidente da Conmebol Juan Angel Napout – também investigado -, de quem ouviu uma frase que depois lhe seria repetida por Del Nero. A de que os dirigentes do poderoso futebol brasileiro mereciam “tratamento presidencial”.
OUTRO LADO – Del Nero se posicionou, por meio de um comunicado, sobre o depoimento de Burzaco, no qual o seu nome e o do empresário argentino foram grafados em caixa alta.
“Com referência à citação feita à sua pessoa pelo delator premiado ALEJANDRO BUZARCO na Corte de Justiça do Brooklin, New York, EUA, o presidente da CBF, MARCO POLO DEL NERO, vem a público esclarecer que nega, com indignação, que tivesse conhecimento de qualquer esquema de corrupção supostamente existente no âmbito das entidades do futebol a que se referiu. As investigações levadas a efeito naquele país não apontaram qualquer indício de recebimento de vantagens econômicas ou de qualquer outra natureza por parte do atual presidente da CBF”, afirmou.
Depois, o comunicado completa: “Igualmente, o que ali ficou apurado foi que os contratos sob suspeita não foram por ele assinados nem correspondem ao período de sua gestão na presidência da CBF. Esclarece, ainda, que jamais foi membro do Comitê Executivo da Conmebol, mostrando-se também falsa essa informação. Por fim, reafirma que nunca participou, direta ou indiretamente, de qualquer irregularidade ao longo de todas atividades de representação que exerce ou tenha exercido”.