Depois de completar três meses na presidência do Comitê Paralímpico Internacional (IPC, na sigla em inglês) e já na segunda semana deste período ver as consequências de um trágico terremoto na Cidade do México colaborarem para que os Mundiais Paralímpicos de Natação e Halterofilismo fossem realizados com um público baixo e sem algumas das maiores potências da primeira destas modalidades, Andrew Parsons está convicto de que precisa ajudar a estruturar os comitês nacionais para que o esporte adaptado cresça de forma global.
Durante a reta final de disputas destas duas competições que a capital mexicana abrigou na semana passada, no mesmo complexo que foi um dos palcos dos Jogos Olímpicos de 1968, o dirigente brasileiro e diz que pretende dar continuidade a alguns projetos que vinham sendo tocados pelo britânico Phillipe Craven, que ele substituiu após ser eleito presidente da entidade da qual era vice-presidente em setembro.
Entretanto, Parsons ressaltou que espera usar a sua experiência acumulada como ex-presidente do Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB) e a própria influência que ganhou como ex-vice do IPC para tornar mais fortes as entidades nacionais filiadas ao máximo organismo dos esportes adaptados.
“Eu era vice-presidente e também fui membro do comitê executivo da gestão anterior, então vamos seguir o caminho da construção coletiva. É óbvio que algumas coisas nós faremos diferente. Eu venho de um comitê nacional, e o Sir Phillipe Craven veio de uma federação internacional. Então, a minha experiência é diferente. Entendo que, quanto mais estruturado os países estiverem, mais forte estará o esporte paralímpico. O que posso dizer é que vou trabalhar muito com os comitês nacionais pelo desenvolvimento do esporte”, ressaltou Parsons, na semana passada, no México, ao ser questionado pela reportagem do Estado sobre o que pretende mudar e o que planeja manter em relação à gestão que vinha sendo liderada pelo britânico.
O dirigente de 40 anos é apenas o terceiro presidente da história do IPC, que foi fundado em 1989 e teve somente dois presidentes antes da chegada do brasileiro ao cargo. O primeiro a liderar a entidade foi o canadense Robert Steadward, que cumpriu três mandatos até 2001, quando Craven, ex-atleta do basquete paralímpico, foi eleito pela primeira vez e ocupou o posto por 16 anos até a eleição de Parsons.
Ou seja, o brasileiro assumiu o cargo para uma gestão inicial de quatro anos pressionado pela responsabilidade de exibir competência depois de os seus antecessores ficarem por mais de uma década cada um na presidência do IPC.
E Parsons reconhece que os primeiros meses no novo cargo não foram fáceis. Logo de cara, precisou tomar uma decisão complicada em relação à Cidade do México, que teve os Mundiais de Natação e Halterofilismo adiados em dois meses após o forte terremoto, ocorrido em 19 setembro, deixar centenas de mortos e causar enormes estragos na capital nacional.
Organizador destas duas competições em conjunto com o IPC, o governo mexicano não tinha mais como abrigar os eventos na data inicialmente marcada, entre o final de setembro e o início de outubro, pois o precisou dar atenção exclusiva às vítimas e à recuperação da metrópole.
“A gente (dirigentes da nova gestão) mal começou e já teve que adiar esse campeonato aqui por causa do terremoto. Não diria que foi um início turbulento, mas sim agitado”, disse Parsons, para em seguida falar sobre a missão que cumpriu por vários países durante este início de trabalho à frente do IPC.
“Visitei os quatro comitês organizadores, tirando o de Pequim-2022. Até o de Los Angeles-2028 nós visitamos. Colocamos para eles as perspectivas do IPC, o que o movimento paralímpico espera destes Jogos. Conheci também mais a fundo o dia a dia do nosso escritório em Bonn, na Alemanha. Então foi um aprendizado enfrentando questões difíceis como o terremoto e compromissos importantes como Pyeongchang-2018 (palco dos próximos Jogos de Inverno). Chegar à presidência do IPC foi um sonho que se tornou realidade, mas começou quente e com decisões difíceis de serem tomadas”, completou.
SEDES DEMOCRÁTICAS – Em meio a este contexto de buscar fortalecer os comitês nacionais para tornar o movimento paralímpico globalmente mais forte, a realização de grandes eventos fora dos principais centros também fazem parte deste processo de “democratização” dos esportes adaptados de alto rendimento. A Malásia abrigará os Mundiais Paralímpicos de Atletismo e de Natação em 2019, mesmo ano em que o Casaquistão será palco do próximo Mundial de Halterofilismo.
“Isso tudo é um pacote. Os países, as cidades e os comitês organizadores se candidatam, então a gente tem que analisar o pacote. A opção da Malásia (para o evento de atletismo) foi uma conjunção de fatores, como estrutura, bem estar dos atletas, capacidade financeira do comitê organizador e, neste caso sim, uma nova fronteira que a gente está conquistando, mas tendo as garantias de que o evento terá uma entrega de alto nível. Tivemos recentemente uma onda americana com grandes eventos na América e agora a gente tenta criar uma onda asiática, mesmo porque os próximos Jogos (Paralímpicos) serão lá (em Tóquio-2020)”, destacou Parsons.
EM LINHA COM O COI – Ao mesmo tempo em que apoia a democratização das sedes dos eventos paralímpicos, o novo presidente do IPC diz ter concordado com a polêmica decisão do Comitê Olímpico Internacional (COI) de ter eleito, de uma só vez, Paris e Los Angeles como respectivas sedes das Olimpíadas de 2024 e 2028, feito inédito na história das candidaturas aos Jogos, após acordo prévio entre franceses e norte-americanos para que isso ocorresse.
“O caso de Paris e Los Angeles eu achei uma decisão fantástica e muito bem pensada do COI. Não é segredo para ninguém que é preciso rever os processos de candidatura, então não há por que não atender às solicitações de duas candidaturas muito fortes. Visitei Paris e Los Angeles recentemente e atestei pessoalmente que são duas candidaturas fantásticas. Você colocar os processos à frente do Comitê Paralímpico não é algo essencial, mas iniciativas para casos como esse são muito bem-vindas”, afirmou o dirigente brasileiro.
Já ao ser lembrado pela reportagem sobre o fato de que existe um movimento que defende a união dos Jogos Olímpicos com os Paralímpicos, enquanto outras correntes criticam a realização da Paralimpíada após a Olimpíada, o que reduzira a perspectiva de um bom público no grande evento do esporte adaptado logo após a ocorrência da grande competição olímpica, Parsons exaltou o bom público que o Rio de Janeiro teve no ano passado para se mostrar favorável à manutenção do formato atual do calendário.
“Minha opinião é a de que nós temos um modelo ideal com a Paralimpíada depois da Olimpíada. Vou lhe dar um exemplo. Se tivéssemos tido a Paralimpíada do Rio antes da Olimpíada teria sido um desastre. É óbvio que o Brasil estava mergulhado na maior crise financeira da sua história, com troca de presidente um pouco antes do Jogos, mas, mesmo em situações menos extraordinárias nós temos a percepção de que a força dos dois eventos acontece de uma forma complementar. Londres foi um grande exemplo disso. O Rio, de certa, forma também. Aquela onda positiva que se formou no último fim de semana dos Jogos Olímpicos acabou revertendo-se nos Jogos Paralímpicos, pois tivemos o segundo maior número de ingressos vendidos da história (de uma Paralimpíada”, ressaltou Parsons, que também tem como uma de suas missões nesta sua gestão a de popularizar o esporte adaptado de alto rendimento em todo o mundo.