O que fez um senhor de 65 anos em uma quadra, correndo de um lado para o outro atrás de jogadores no mínimo 30, 35 anos mais jovens, disputando a principal competição de futsal do Brasil? A resposta está na ponta da língua: “Amor e dedicação ao esporte”, afirmou Roberto Martins, fixo e presidente da Shouse, de Belém, que joga pela primeira vez uma temporada da Liga Futsal.
Todo esse amor e vontade de ainda atuar em alto nível vem desde a juventude. E o futsal só entrou na vida de Roberto aos 42 anos. “Sempre fui envolvido com o esporte, mas através do remo. Remei dos 17 aos 36 anos e até cheguei à seleção brasileira. Fiquei oito anos parado porque tinha de trabalhar e fui para o futsal aos 42 anos”, contou o fixo do time paraense. “Já se foram 23 anos como atleta federado, sendo 22 pela Shouse e um pelo Remo. Amo esse esporte”.
Pela idade, Roberto Martins já poderia ter entrado para o Guinness Book como o jogador mais velho a atuar profissionalmente no futsal, mas não se preocupa com isso. “Há um tempo, já até preenchi alguns formulários para isso, mas a coisa não foi para frente”, disse, com o desejo de inspirar outras pessoas a praticar esporte independentemente da idade. O “recorde” aconteceu no dia 19 de março, quando a Shouse estreou na Liga Futsal contra o São José-SP e Roberto esteve em quadra por cinco minutos.
Todo esse desejo de ainda praticar esporte o fez acreditar no projeto da Shouse, uma empresa de tecnologia de Belém na qual Roberto Martins é dono. Há mais de 20 anos, a Associação Esportiva Shouse foi criada e começou a disputar torneios de futsal no Pará. “Tudo começou como uma brincadeira. Jogamos campeonatos aqui no Pará e na região Norte e ganhamos vários títulos. Assim crescemos e hoje estamos entre os 20 melhores do ranking nacional”, afirmou.
Na Liga Futsal, a campanha é muito ruim, mas nada que desanime Roberto Martins. Em 11 jogos até agora, foram 11 derrotas, sendo algumas por goleadas acachapantes como 14 a 3 (para o Atlântico Erechim-RS), 12 a 1 (para o Joinville-SC) e 11 a 0 (para o Sorocaba-SP, de Falcão). “Sei que nossa participação na principal competição da modalidade no país vai abrir portas para o nosso Estado (Pará) como um todo”, disse. “É tudo um aprendizado para nós. Estamos melhorando a cada jogo e ainda penso até na classificação à segunda fase”.
Com 19 times, todos se enfrentam em turno único e os 16 melhores avançam. Daí a esperança de Roberto Martins, que não mede esforços para seu projeto. Sem patrocínio, é a própria Shouse – ou seja, ele mesmo – que paga as despesas das viagens da equipe pelo Brasil. São nove jogos como visitante na Liga Futsal. “Gasto uma média de R$ 25 mil por viagem, já que são 16 pessoas na delegação. Claro que com patrocínio seria bem melhor. Entramos como convidado neste ano e queremos jogar no ano que vem. Vamos ver”, revelou.
VOLTA AO MUNDO – Como único time das regiões Norte e Nordeste do Brasil na Liga Futsal, a Shouse tem de viajar milhares de quilômetros quando sai de Belém. Nesta temporada são nove jogos como visitante, o que dá uma distância de 60.474 km percorridos até o final da fase de classificação. É mais que a volta ao mundo pela Linha do Equador, que tem 40.075 km.
“Vale a pena. Tenho aquele espírito de boleiro e quero jogar. Quero que a imprensa faça uma análise crítica das minhas atuações. Não atuo para completar a equipe. A minha média em quadra é de 10 a 15 minutos”, afirmou Roberto Martins, que não se esquece de um fato ocorrido no jogo contra o Joinville, em Belém. “Um jogador do Joinville não passou por mim no jogo. Depois ele veio falar comigo e me disse que tinha um grande respeito por mim e que contaria por pai dele sobre isso. Fiquei feliz”.