A briga pelo controle do futebol mundial ganha contornos inéditos e ameaça colocar até mesmo a organização da Copa do Mundo a cada quatro anos em cheque. Nesta sexta-feira, o presidente da Fifa, o suíço Gianni Infantino, pretendia aprovar a sua ideia de criação de novos torneios que poderiam render US$ 25 bilhões aos caixas da entidade graças a investidores privados.
Mas um desentendimento entre Uefa, Conmebol, a direção da Fifa e outras delegações pode obrigar o cartola a adiar uma votação e anunciar apenas a criação de grupos de trabalho para estudar as propostas. Os europeus, contrários à ideia, ameaçaram abandonar a sala de reuniões se o projeto for adiante.
Já os fundos de investidores árabes, chineses e norte-americanos que prometeram injetar recursos no projeto alertaram que a reunião desta sexta-feira é o prazo final para que haja um acordo, que vem sendo adiado desde o início do ano.
Sobre a mesa está a proposta sem precedentes de US$ 25 bilhões (R$ 92,5 bilhões) para a organização de um Mundial de Clubes e uma Liga das Nações de dimensões globais. Infantino pretendia colocá-los em votação nesta sexta-feira, durante a reunião do Conselho da Fifa em Ruanda. Mas a Uefa promete impedir a criação de um evento que poderá ameaçar a supremacia da Liga dos Campeões da Europa. Dos 37 membros do Conselho da Fifa, nove são da Uefa.
Sobre a mesa estarão duas propostas. Uma delas prevê um Mundial de Clubes com 24 times e que ocorreria a cada quatro anos, substituindo a Copa das Confederações em meados do ano. Uma segunda proposta é a de manter o atual formato, mas transferir o torneio para o verão europeu.
No novo torneio, 50% dos clubes viriam da Europa. A Fifa, portanto, precisa do apoio da Uefa para permitir que o projeto se transforme em realidade.
Já a Conmebol também resiste. Para a entidade, não há como ter um Mundial de Clubes em meados do ano, sob o risco de obrigar todo o continente a refazer o seu calendário de torneios para se adequar aos europeus. Além disso, os dirigentes ficaram irritados com a proposta da Fifa de dar apenas quatro vagas para os clubes da região.
Nesta quinta-feira, um encontro apenas entre os presidentes das seis confederações regionais e Infantino mostrou a dimensão da crise. Ficou estabelecido que, no lugar de uma votação, a Fifa iria criar um grupo de trabalho para estudar o caso até o início de 2019. Pelo projeto, cada edição do Mundial de Clubes renderia US$ 3 bilhões (R$ 11 bilhões) e seria disputado entre 2021 e 2033.
Mas, ao deixar o encontro, os dirigentes foram surpreendidos por um alerta dos investidores: não aceitariam mais adiamentos e exigiam uma definição. Infantino, agora, terá de pesar entre convencer os investidores a permanecerem e não abrir uma crise interna, o que colocaria em risco a sua reeleição em 2019.
COPA DO MUNDO – Quanto à Liga das Nações, a ideia de uma disputa envolvendo países de todo o mundo seria iniciada depois de 2022. Os jogos ocorreriam ao longo do ano, substituindo os amistosos. Uma vez mais, os europeus se mostraram reticentes.
Nos bastidores, porém, delegações de diversos países já especulam até mesmo sobre a possibilidade de que, se o projeto for barrado pelos europeus, aceitariam pensar na criação de uma mini-Copa do Mundo a cada dois anos. A lógica é de que, abandonando o torneio a cada quatro anos, a Fifa “mataria” o interesse comercial pela Liga das Nações que a Europa acaba de criar.
Nas últimas semanas, Infantino tentou costurar uma aliança com dirigentes de diferentes regiões para conseguir aprovar o projeto. Em uma carta, ele garantiu que os novos torneios não teriam dinheiro de fundos soberanos, uma forma de assegurar que quem estava por trás do projeto não era o regime saudita, uma das suspeitas.
Infantino, em apenas alguns meses, manteve quatro encontros com lideranças sauditas, interessadas em se transformar em atores de peso no futebol mundial. Mas os escândalos envolvendo a morte de um jornalista crítico de Riad e a pressão por esclarecimentos levou o presidente da Fifa a afirmar que o novo projeto teria apenas recursos privados.
O suíço havia enfurecido os europeus ao propor o novo modelo de torneios com um fundo de investidores que ele se recusaria a revelar os nomes proprietários.
O projeto está sendo considerado como o maior teste para a presidência de Infantino. Se o assunto fosse rejeitado, o suíço estaria recebendo um alerta claro dos demais dirigentes de que seu estilo de governança não satisfaz e que sua reeleição, em 2019, pode ser ameaçada. Ele já deixou claro que quer mais um mandato de quatro anos no comando da Fifa.