Os bancos de investimento entraram em 2017 com o gás renovado, com as emissões de ações nos primeiros quatro meses do ano marcando o melhor período em sete anos. A movimentação das companhias em busca de capital para crescimento orgânico, depois de um período de monotonia, já começa se a refletir nas receitas dessas instituições financeiras e, apesar de ainda distante de números já vistos no passado, os ganhos já mais do que dobraram nestes primeiros meses do ano. Um impulso adicional é dado como certo se houver a aprovação de reformas, em especial a da Previdência, fator que ainda coloca névoa na tomada de decisão de empresários.
No primeiro trimestre do ano, os ganhos com comissões de bancos de investimento que atuam no Brasil somaram US$ 135,55 milhões, de acordo com dados da consultoria Dealogic. Mostra da melhora do ambiente é a comparação anual, visto que o montante é mais de duas vezes superior aquele registrado no mesmo período do ano passado, de US$ 56,8 milhões. Em relação a 2015, a expansão foi de 26%.
“A renda variável deverá ser o carro-chefe para os bancos de investimento neste ano. Os investidores estão interessados em América Latina. Estamos com a execução de oito ofertas, sendo 70% delas IPOs”, afirma o diretor gerente do Bradesco BBI, Leandro Miranda. Segundo o executivo, esse forte apetite já foi evidenciado no livro de demanda das últimas ofertas de ações no Brasil.
O mercado de renda variável, que teve atividade morna nos últimos anos, vem se beneficiando da melhora das expectativas e já registrou um início de ano como não se via há anos. As ofertas de ações no Brasil já alcançam R$ 13,2 bilhões em 2017, superando os R$ 6 bilhões que essas operações somaram no ano passado. Trata-se do volume mais elevado desde 2010, quando as emissões de ações nos quatro primeiros meses do ano somaram R$ 13,5 bilhões, conforme dados da B3, ex-BM&FBovespa.
Até agora em 2017, foram sete ofertas na bolsa brasileira, sendo três delas iniciais: Movida, Hermes Pardini e Azul. Esse cálculo não considera a oferta da Netshoes, que aconteceu apenas em Nova York e que contou com o Bradesco como um dos bancos coordenadores. No momento, há duas empresas com pedido de registro de IPO na Comissão de Valores Mobiliários (CVM), a Log Commercial, da MRV, e a companhia de TI Tivit, mas a expectativa é de que essa fila não pare de crescer.
“Para frente o mercado tem um pipeline muito robusto. No ano poderemos ter entre 20 e 30 ofertas, entre IPOs e follow ons”, destaca o diretor de Banco de Investimentos do Itaú BBA, Roderick Greenlees. O executivo diz ainda que a queda de juros, além de atrair mais investidores para o mercado acionário, também anima as empresas a abrirem capital, já que diminui a taxa de desconto e aumenta o valor da companhia.
O responsável pelo departamento do banco de investimento do Credit Suisse no Brasil, Fábio Mourão, diz que neste ano “há tudo para a receita e a atividade dos bancos de investimento serem impulsionadas pelo mercado de capitais”. “As performances das ações das emissões deste ano foram positivas e, com isso, se cria um bom panorama para os investidores em relação ao Brasil. No entanto, o cenário político e econômico tem que estar minimamente bom”, salienta.
Com a melhora do ambiente econômico, o papel do banco de investimento, segundo o executivo do BBI, é trazer um olhar inovador, tanto do ponto de vista de mercado quanto para as empresas. No entanto, essa melhora da percepção vai depender de como será o desfecho das reformas.
“O investidor estrangeiro já tem na sua conta a reforma da Previdência, mas não está uma mudança substancial do tamanho do impacto fiscal. Sem a reforma da Previdência, essa lua de mel pode acabar muito rapidamente e toda a onda de IPO e de fusão e aquisição (M&A) pode não se concretizar”, pondera Miranda, do BBI.
Voltando ao crescimento
Apesar dessa incerteza ainda no radar, no momento parte das empresas já começa a vislumbrar oportunidade de crescimento, o que acaba gerando mais negócios para os bancos de investimento. Em 2016, no pico da crise que assola o Brasil há mais de dois anos, os bancos estavam olhando essencialmente em soluções para as empresas altamente endividadas, em processos chamados de liability management. Essa trabalho com as companhias muito alavancadas continua, com elas buscando liquidez com a venda de ativos. Já começou a crescer, contudo, o número de empresas em busca de recursos para crescimento.
O chefe do banco de investimento do Bank of America Merrill Lynch, Hans Lin, afirma que algumas emissões de dívida ainda estão ocorrendo para o equacionamento da estrutura financeira, mas em se tratando das ofertas de ações, os recursos levantados já começam a ser destinados para consolidação e crescimento.
“Os anos de 2015 e 2016 foram atípicos, diante da falta de confiança. Agora estamos voltando à normalidade. O movimento do pipeline para a emissão de ações é forte”, afirma Lin. A expectativa, segundo ele, é de que as comissões por lá cresçam entre 30% e 40% neste ano.
Antonio Pereira, responsável pelo banco de investimento do Goldman Sachs do Brasil, destaca que a melhora das expectativas em relação à economia brasileira, diante da percepção que o País passa por um ponto de inflexão, acaba gerando mais intenção de negócios pelas companhias. “O viés é positivo, tanto por parte dos investidores locais quanto os de fora”, afirma.
Segundo ele, a agenda dentro dos bancos de investimento em relação à desalavancagem das empresas ainda não terminou. Os ativos mais líquidos dessas empresas, afirma, já mudaram de mão, e agora já se observa uma agenda mais construtiva. “Estamos vendo operações de M&A e de ações ligadas a oportunidades de crescimento”, explica o executivo.