Economia

Consumidor ainda não sente os efeitos da inflação em queda

A pequena alta da inflação de 0,14% em abril – a menor para o mês desde o início do Plano Real, em 1994 – registrada pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) foi influenciada sobretudo pela queda nos preços administrados, como combustíveis e energia elétrica. O cenário, entretanto, ainda não significa um alívio para o bolso dos consumidores, que não perceberam quaisquer sinais de melhora no seu poder de compra nos últimos meses.

O jornal O Estado de S. Paulo foi às ruas para entender como as pessoas estão sentindo a queda nos preços medida pelo IPCA. De uma maneira geral, comerciantes, motoristas e aposentados ouvidos pela reportagem têm adotado a estratégia de cortar quaisquer gastos desnecessários ou pesquisar muito antes de comprar algum produto ou contratar um novo serviço.

O Cine Sala, em Pinheiros, por exemplo, gasta cerca de R$ 6 mil por mês com a conta de luz. O valor poderia ser bem maior, não fosse a diligência do gerente Guilherme Massoni, que controla cada lâmpada acesa do estabelecimento.

Durante a semana, quando o movimento é menor, Massoni orienta seus funcionários a deixar o ar condicionado desligado e a só acender as luzes internas e do letreiro quando a noite começa a cair. Assim, diz, consegue manter o ritmo de quatro sessões diárias de filmes. “O coração do cinema, nosso projetor, não para. Mas a gente só liga o equipamento quando o filme está prestes a começar”, afirma.

O sobe e desce dos preços da energia elétrica nos últimos meses também atingiu um dos negócios mais movimentados da região. A hamburgueria Na Garagem subiu seus preços na semana passada para conseguir arcar com o aumento das despesas com as contas, entre elas a de luz, além de outros custos com os fornecedores. O local está quase sempre abarrotado de clientes, mas os poucos momentos de folga são “valiosos” para tentar economizar o que for possível, explicam os funcionários.

“Quando não tem ninguém por aqui, desligamos uma das chapas e apagamos as luzes do salão. Se não fizermos isso o gasto fica muito alto”, conta Gessciane de Almeida, irmã do dono da hamburgueria.

A situação não é diferente para quem trabalha dirigindo. Na profissão de taxista há oito anos, Carlos Reis chegou a substituir o tipo de combustível do seu carro em busca de maior economia. Os 130 quilômetros que ele consegue rodar com um tanque cheio de GNV ficou mais caro desde o começo do mês, quando Reis percebeu um aumento de mais de dez centavos por metro cúbico do combustível em diversos postos da capital paulista.

“Às vezes eu cruzo a cidade só pra abastecer em um posto mais barato. Meu poder de compra? Tá pior a cada dia”, reclama.

Para além dos preços administrados, o preço dos alimentos, que representou um discreto alívio no mês de março, mas voltou a subir 0,58% em abril, ainda é um dos fatores que mais pesam no orçamento das famílias. Tanto é que a estratégia de bater perna à procura das melhores ofertas, e a substituição de produtos de marcas famosas por mercadorias mais baratas, voltou a ser uma opção para um número cada vez maior de pessoas.

O escrevente João Ferreira de Morais não tem medo de esconder. Baixou seu padrão de consumo nas compras de supermercado, e já há algum tempo visita pelo menos três estabelecimentos diferentes para se assegurar de que está fazendo o melhor negócio.

“Rapaz, fazia tempo que o meu salário de escrevente não comprava tão pouco. Parece que diminui a cada dia”, relata João, profissional de um Tabelião de Notas há mais de 35 anos. “Parece que dão pra gente com uma mão e tiram com a outra. Se alguma conta vem mais baixa em algum mês, é quase certo que vamos ter outro gasto que consuma o que estamos poupando”, desabafa.

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