O próximo ano será decisivo para Interlagos não fechar as suas portas e o GP do Brasil deste domingo, às 15h10, não ser um dos últimos da história do autódromo de São Paulo. Como o circuito paulistano tem contrato para receber a categoria somente até 2020, as negociações ao longo de 2019 entre os donos da categoria, os promotores da prova e as autoridades brasileiras serão fundamentais para renovar o acordo por mais tempo. Tudo ainda está em aberto.
“O nosso interesse é, passando o GP deste ano, começar a discussão da renovação do contrato. Há um projeto de privatização em Interlagos, mas não vamos esperar para tomar a iniciativa. O projeto a ser discutido na Câmara não vai limitar a prefeitura a dar sequência nas suas tratativas”, disse o prefeito de São Paulo, Bruno Covas (PSDB), em entrevista nesta semana. “No próximo ano, vamos iniciar as negociações para renovar”, afirmou ao jornal O Estado de S.Paulo o promotor do GP, Tamas Rohonyi.
O ano de 2019 surge como decisivo para a negociação por incluir a mudança no governo do Estado e na presidência da República. O poder público representa uma força importante para selar o acordo, como foi na última renovação, fechada em 2014.
O contrato de 67 páginas foi assinado pela Fórmula 1 com a contrapartida da realização de uma reforma feita na pista, paddock e nos boxes. A revitalização de R$ 160 milhões foi bancada com recursos federais e incluiu a troca do asfalto, obras de segurança e a ampliação do espaço de trabalho das equipes.
Quem também participará das negociações é a TV Globo. A emissora dona dos direitos de transmissão tem contrato com a Fórmula 1 até 2020. A empresa foi procurada, porém não respondeu se teria interesse em estender a exibição das corridas.
A principal diferença desta tentativa de renovação em comparação às anteriores é a presença dos novos donos no comando da categoria. O grupo norte-americano Liberty Media comprou a Fórmula 1 por cerca de R$ 25 bilhões em 2016 e tem mostrado com outros circuitos uma lógica diferente de operação do negócio em comparação ao antigo chefão da modalidade, o inglês Bernie Ecclestone, amante do Brasil, inclusive casado com uma brasileira. O dirigente norteou a expansão da F-1 pautado principalmente na escolha de países estratégicos, em convicções pessoais e, claro, pelas cifras. No caso do grupo Liberty Media, o fator econômico é a prioridade. Se a corrida não atingir as metas desejadas, ela ficará fora do calendário.
A mudança desse viés fica claro no impasse sobre o GP da Inglaterra, realizado em Silverstone. O tradicional autódromo, que sediou a primeira prova da história da categoria e está localizado perto da maioria das fábricas das equipes, só tem contrato válido até 2019 e pode dar lugar a um circuito de rua.
“Nada é intocável no esporte quando se trata de onde corremos. Nós realmente valorizamos certas corridas e nos empenhamos para preservá-las, mas a Fórmula 1 é um negócio”, resumiu o diretor administrativo da categoria, Sean Bratches, ao site inglês Autosport. O Estado entrou em contato com o grupo Liberty Media para questionar sobre o futuro do GP do Brasil, mas não obteve retorno.
Nos próximos anos, a empresa pretende aumentar o calendário de 21 para 25 etapas. Na última semana, a Fórmula 1 confirmou a realização de uma corrida no Vietnã em 2020. Preocupada com a queda da média de público nas pistas ao redor do mundo, a Liberty Media estuda realizar provas em destinos inéditos e pode ter até duas nos Estados Unidos.
A manutenção do Brasil no calendário tem como principal entrave justamente o lado financeiro. Em 2016, o Estado revelou que a prova dava prejuízo de cerca de R$ 100 milhões, rombo saldado pela organização da Fórmula 1. O GP brasileiro não paga taxa de promoção, ao contrário da maioria das etapas, mas a organização garante que a cota elevada de patrocinadores compensa as perdas. Este ano, pela primeira vez desde 1972, o Brasil não terá um piloto seu no grid de Interlagos.
BENEFÍCIOS – Como aliados na permanência de Interlagos estão os principais patrocinadores do evento. Marcas internacionais se apresentam como apoiadoras da continuidade da prova no calendário, principalmente pelo interesse econômico em investir em um evento no maior país da América do Sul.
A cervejaria Heineken, por exemplo, paga o “naming rights” da prova e tem o Brasil como segundo mais importante mercado do mundo em vendas e faturamento. “Acreditamos no esporte e na marca, ambos conhecidos mundialmente. Para nós, é importante que a F-1 continue no País por causa de nossas campanhas”, disse a diretora de marketing da Heineken no Brasil, Vanessa Brandão.
Para a Mercedes, a lógica é parecida. A empresa alemã diz que apoiar o GP do Brasil significa importância estratégica de realizar campanhas no país onde mais se vende ônibus no mundo.