A Bolsa brasileira tem se beneficiado dos investimentos que vêm de fora para manter bons resultados, após a debacle de 8,8% em 18 de maio, a pior em quase nove anos. As movimentações dos investidores estrangeiros no mercado brasileiro fecharam o mês passado com um saldo positivo de R$ 2,15 bilhões.
A diferença entre as movimentações de compra e venda por estrangeiros ficou positiva novamente, após dois meses seguidos de queda, e voltou ao mesmo patamar de abril do ano passado – o último mês em que Dilma Rousseff permaneceu no comando do Palácio do Planalto. Naquela ocasião, antes de Michel Temer assumir o poder interinamente, o saldo investido chegou a R$ 2,73 bilhões.
Com a ajuda de fora, o Ibovespa, principal índice da Bolsa, pôde recuperar parte das perdas sofridas no pregão do dia seguinte ao vazamento da gravação de uma conversa entre o presidente Temer e o empresário Joesley Batista, da JBS, estopim da crise política.
Na opinião de analistas, entre as explicações para a entrada de dinheiro estrangeiro para as ações locais nos pregões de maio estão a percepção de que o preço dos ativos em baixa pela crise criou uma janela de oportunidades para os investidores e a valorização do dólar em relação ao real, que deixa os ativos domésticos mais baratos para os estrangeiros.
“Uma sorte, se é que podemos usar essa palavra agora, que o Brasil deu foi o momento em que a crise política atual estourou, considerando-se o mercado internacional. O que a gente percebe no exterior é um apetite maior por parte dos investidores por papéis de países emergentes”, destaca Gustavo Loyola, ex-presidente do Banco Central e sócio da Tendências Consultoria Integrada.
Segundo Loyola, até mesmo os mercados emergentes que passam por sérias crises institucionais, como a Turquia, têm atraído capital. “Os estrangeiros estão abertos ao risco, e a crise já influenciou o comportamento dos Credit Default Swap (CDS) do Brasil, que funcionam como uma espécie de seguro contra calotes.”
Eles foram do patamar de 2,0 pontos porcentuais para o de 2,4 na semana após a divulgação da delação de Joesley Batista. “É um deslocamento ainda relativamente modesto, dada a gravidade da crise, mas mostra o potencial de influência.”
Na avaliação de André Perfeito, da Gradual Investimentos, os resultados dos mercados internacionais também pesam pela atração de capital no Brasil. “Lá fora, a bolsa de Nova York está em um dos maiores patamares da história, isso faz com que os investidores olhem para outros ativos. Quando alguém pensa em comprar ou vender em emergentes, tende a fazer negócio com os papéis brasileiros, porque passam maior seguro, a nossa moeda é mais líquida e o mercado mais previsível.” “A crise política tende a não gerar efeitos no curto prazo, porque os ajustes feitos pela equipe econômica atual são de médio e longo prazos. Agora, a gente está colhendo os frutos disso, com melhores resultados na inflação e aparente estabilização do desemprego”, diz.
Apreensão
“É uma reação natural do mercado. O estrangeiro estava fora do Brasil recentemente, mas vê que está barato e se sente atraído”, diz Zeina Latif, economista-chefe da XP Investimentos e colunista do Estado. “Só que também é preciso levar em consideração que o País não reconquistou o grau de investimento, tem muita incerteza agora e esses movimentos, isoladamente, têm um fôlego limitado, podem representar mais uma busca oportunista por preços baixos do que a aposta mais consistente nos papéis nacionais.”
Ela avalia que será preciso aguardar os resultados dos investimentos estrangeiros em junho, considerando os desdobramentos da crise em Brasília, para que fique claro se o movimento se sustentará. “Para além da crise, o Brasil ainda tem muitas oportunidades. Setores associados à demanda não reagiram ainda, mas vão. E podem atrair investimentos.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.