O diretor-geral da Associação Internacional de Transporte Aéreo (Iata, na sigla em inglês), Alexandre de Juniac, fez nesta segunda-feira, 5, um duro discurso contra medidas protecionistas que estão sendo tomadas em diversos locais do mundo e que acabam por impactar a indústria da aviação. O executivo ainda comentou as medidas restritivas adotadas por Estados Unidos e Reino Unido quanto ao transporte de laptops e equipamentos eletrônicos de grande porte em voos vindos de alguns aeroportos na África e Oriente Médio, afirmando que tais iniciativas foram tomadas unilateralmente.
“Hoje, estamos enfrentando problemas vindos daqueles que tentam barrar os benefícios da globalização”, disse, durante a 73ª Assembleia Geral anual da entidade, em Cancún, no México. “Em algumas partes do mundo, a retórica nacionalista aponta para um futuro com maior protecionismo, e, independente se esses pensamentos estão no governo, nas conversas populares ou ao redor das decisões políticas, eles são uma ameaça para nossa indústria”.
Em sua fala, Juniac ressaltou que, apesar de a globalização não ter beneficiado todos de uma maneira igualitária, os líderes da aviação devem defender as conquistas geradas pela conectividade do mundo, garantindo esses benefícios às próximas gerações.
Quanto às restrições no transporte de eletrônicos, o diretor-geral da Iata afirmou que a decisão dos governos dos Estados Unidos e Reino Unido foi tomada sem que a indústria fosse consultada e com pouco tempo para implantação, o que pegou todos de surpresa, representando um desafio às empresas e uma inconveniência aos passageiros. “Não devia ser assim”, disse.
Para Juniac, a efetividade das medidas é duvidosa, uma vez que o Reino unido e os Estados Unidos não chegaram a um acordo sobre os aeroportos que representam riscos. Além disso, questões a respeito dos riscos ligados ao armazenamento de um número elevado de baterias de lítio nos porões dos aviões não foram respondidas.
“No atual escopo da restrição, estimamos uma perda de US$ 180 milhões em produtividade, e esse número pode chegar a US$ 1,2 bilhão caso a restrição seja ampliada para voos entre Europa e Estados Unidos”, destacou.
Para o diretor da Iata, é necessária a abertura de uma linha de diálogo “robusta” entre governos e companhias aéreas, uma vez que as empresas possuem expertise nas questões de transporte e segurança aérea. Quanto a possíveis alternativas, Juniac disse que, no curto prazo, é necessária uma inspeção mais rigorosa nos portões de acesso, e que, no meio termo, a implantação de tecnologias mais rápidas para a detecção de explosivos é vital.
“Francamente, é difícil entender a resistência (dos governos)”, disse. “Há um dever claro para assegurar que as medidas sejam lógicas, efetivas e eficientes, mas esse não é o caso com a restrição atual”.
Privatizações de aeroportos
Juniac voltou a afirmar que a privatização de infraestrutura aeroportuária não gerou os benefícios prometidos em muitos países, entre eles, Brasil, Índia, França e Austrália.
“As concessionárias fazem dinheiro, o governo fica com uma fatia e as companhias aéreas pagam a conta, e geralmente é uma conta cara”, disse Juniac. “E os passageiros e a economia local sofrem com os resultados de custos mais elevados.”
Para Juniac, ao privatizar infraestrutura crítica, os governos devem ter uma regulação econômica forte, o que deve contar com a colaboração de autoridades e do mercado. “É a única maneira de balancear a necessidade dos investidores por lucro com as necessidades da comunidade por uma conectividade mais eficiente em termos de custo”.
O diretor da Iata ainda afirmou que a atual infraestrutura aeroportuária no mundo mal consegue lidar com a atual demanda por passageiros, fazendo com que investimentos para expansão sejam urgentes.
O cenário mais crítico, segundo Juniac, é visto na Europa, onde a atual infraestrutura aeroportuária será capaz de acomodar apenas 88% da demanda esperada em 2035. No entanto, ele afirma que outros locais do mundo também sofrem com problemas semelhantes, com gargalos sendo verificados na Tailândia, Austrália, Estados Unidos, México e Brasil.
*O jornalista viaja a convite da Associação Internacional de Transporte Aéreo (Iata, na sigla em inglês)