Mesmo após Marta ser eleita pela sexta vez a melhor jogadora do mundo, um recorde absoluto na premiação da Fifa, a seleção brasileira feminina de futebol deverá chegar ao Mundial deste ano, na França, desacreditada. A competição começará em 7 de junho e até lá o técnico Oswaldo Alvarez, o Vadão, terá pouco tempo para preparar e mudar o rumo da equipe nacional, que sofreu sete derrotas nos últimos sete jogos.
Embora defenda que o Brasil jogou bem e merecia melhores resultados nas três partidas finais desta sequência, contra Inglaterra, Japão e Estados Unidos, o treinador admite que, no momento, o seu time não pode se colocar entre as principais potências do futebol feminino e, consequentemente, não está entre as favoritas ao título. A situação do time coloca em xeque a modalidade no País, que vive às turras com a falta de investimento dos grandes clubes.
Vadão reconhece que a seleção não conseguiu evoluir, ao passo que várias outras rivais cresceram e se tornaram mais protagonistas do que o Brasil. “Antigamente, tinha quatro ou cinco equipes favoritas no Mundial. Hoje, temos umas dez. Tem a Inglaterra, que subiu demais, Japão, Canadá, Noruega, Austrália, França, Alemanha… (não cita o Brasil). A evolução do futebol feminino dos outros países foi muito grande, enquanto nós estacionamos”, afirmou o técnico ao Estado.
Desde que Vadão reassumiu o comando do time, em setembro de 2017, o Brasil disputou 21 jogos, nos quais acumulou 12 vitórias, um empate e oito derrotas, todas para equipes que estarão no Mundial. O último triunfo ocorreu em 29 de julho de 2018, quando bateu as japonesas por 2 a 1 em amistoso nos Estados Unidos. Nove das 12 vitórias de Vadão foram sobre rivais sul-americanas, quase todos de um nível considerado fraco ou até amador no futebol feminino.
REFLEXO DE GERAÇÃO – O técnico vê o Brasil também com uma geração carente de talentos.”Se você pegar a seleção brasileira masculina, quando o Felipão ganhou a Copa de 2002, tinha Rivaldo, Ronaldo, Ronaldinho Gaúcho e uns cinco jogadores excepcionais. Hoje só temos o Neymar como fora de série”, compara. “Em um passado um pouco distante, o Brasil tinha a Sissi, a Marta e várias outras atletas com poder de decisão. Hoje são poucas. A Formiga, com 41 anos, jogou 90 minutos nos três últimos jogos e nós precisamos dela. A Marta não estava na melhor de sua condição nestes últimos confrontos, mas a gente precisava dela…”
Marco Aurélio Cunha, coordenador de futebol feminino da CBF, também reconheceu ao Estado que a seleção é dependente de nomes como Marta e Cristiane para brilhar, mas crê que o nível do futebol brasileiro “melhorou absurdamente” e vai evoluir mais com a obrigatoriedade recente de os clubes manterem times femininos.
Entretanto, o dirigente admite que o Brasil não está entre os principais postulantes a conquistar o título do Mundial, apesar de o País carregar a tradição de quem foi vice-campeão da Copa de 2007 e faturou medalha de prata olímpica em Atenas-2004 e Pequim-2008.
“Não vejo como o Brasil poderia ser favorito. Favoritos são os quatro primeiros do ranking, os outros são times que estão em busca de sua oportunidade”, disse, referindo-se ao fato de as brasileiras, hoje, ocuparem o décimo lugar na listagem da Fifa.