A ideia de cultivar acácias pela madeira e para recuperar o solo, substituída pelo projeto de produzir mel com a chegada das abelhas, em pouco tempo ganhou uma função adicional. Enquanto as árvores cresciam na Fazenda Paraná, na Serra do Roncador, a 800 metros de altitude, vacas e bezerros começaram a ganhar peso mais rápido.
“Com as acácias, o capim voltou mais bonito e regenerado”, diz Roberto Libera, diretor da Fazenda Paraná. “As acácias, por sua vez, cresceram mais fortes com a adubação do gado.”
No fim de julho, em plena seca no cerrado, as reses avançavam sobre as folhas mais baixas das acácias, altamente proteicas e as únicas plantas verdes em todo o pasto.
Não é à toa que Libera pretende fazer com que os 2 mil hectares plantados hoje, se transformem em 20 mil hectares no longo prazo. “Nosso conceito de fazenda mudou”, diz ele. “Hoje, queremos preservar o máximo possível e estimular a biodiversidade.”
É exatamente esse um dos ganhos percebidos com a integração lavoura-pecuária-floresta: um sistema de produção leva a ganhos do outro, que são sentidos na ponta do lápis. Segundo pesquisas da Embrapa, num consórcio no qual se intercalem grãos ou braquiária com gado, o ganho de peso médio dos animais é de 800 gramas por dia. Já o produtor de grãos pode obter de 6 a 12 sacas a mais de soja por hectare.
Os exemplos são vistos em todo o País. Numa propriedade acompanhada pela Embrapa, no Rio Grande do Sul, a rotação de gado com grãos (e suplementos alimentares) fez com que a média de produção de leite chegasse a 23 litros por vaca a cada dia, numa região cuja média de produção é de 11 litros. Em outra, na qual o cultivo de arroz foi intercalado com a criação de gado, os animais que antes eram vendidos entre 24 e 36 meses, atingiram o peso ideal entre 18 e 24 meses.
Com resultados tão sensíveis, 83% dos produtores que aderiram ao sistema integram só a pecuária com a lavoura. “Há muita resistência dos pecuaristas e produtores de grãos a incluir árvores na equação”, diz Lourival Vilela, pesquisador da Embrapa. Isso porque a floresta atrapalha as colheitadeiras de grãos.
“O gado só vê sombra na hora que vai ao abatedouro”, diz. “Só que deixá-lo sob o sol é mais ou menos como condenar alguém a almoçar sob calor de 40 graus: sem conseguir comer, o ganho de peso é pequeno.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.