André Brasil promete lutar até o fim para voltar a ser um atleta paralímpico. Um dos maiores nadadores adaptados do País – ele participou de três edições dos Jogos Paralímpicos, cinco Mundiais e três ParaPan – foi reclassificado e considerado inelegível para competir. “A palavra que melhor resume o que estou sentindo é indignação”, disse o atleta à reportagem do Estado.
Aos 34 anos, André Brasil garante que não quer ser aposentado na marra e que tinha como meta Tóquio-2020. Agora, o quatro vezes recordista mundial espera o resultado de uma apelação que o Comitê Olímpico Brasileiro (CPB) enviou ao Comitê Paralímpico Internacional (IPC, na sigla em inglês) na quinta-feira para tentar uma nova avaliação.
“Contestamos a atitude da chefe de classificação durante o Open Internacional Loterias Caixa. Ela respondia por todo um sistema. Assinamos um documento entendendo que a classificação é um processo observatório e não pode ter interferências externas. Ela tomava a folha das pessoas que estavam fazendo a minha avaliação, fazia comentários, dando a entender que ela estava influenciando ou discordando de algumas análises sobre mim”, explica.
A natação paralímpica tem 14 classes, sendo que quanto maior a deficiência do atleta, menor o número da classe. De 11 a 13 estão atletas com deficiência visual. Na 14, com deficiência intelectual. André Brasil fazia parte da categoria para competidores com limitações físico-motoras. Era S10, mas, na avaliação, ele foi considerado inelegível como paralímpico.
“Queremos anular o que foi feito no dia 24 de abril para que eu possa ter uma nova chance de classificação, de uma maneira transparente agora”, disse o campeão paralímpico, que reuniu uma série de exames e documentos para sustentar seu argumento. O CPB demonstrou total apoio e reforçou sua defesa.
“Eu não estou lutando pelo direito próprio, estou tentando conquistar um direito de qualquer pessoa com uma limitação de fazer parte de um nicho. Se não sou atleta paralímpico, como só agora me dizem, e se não sou atleta olímpico, porque o meu corpo não permite, o que eu sou então? Onde eu me enquadro?”, questiona ao Estado.
André Brasil tem uma deficiência aparente na perna esquerda decorrente de uma poliomielite por reação à vacina quando tinha três meses de vida. Por causa da sequela, ele tem apenas 25% de força no pé, um pouco atrofiado, que quase não mexe como o da direita. “É confuso na minha cabeça olhar para minhas pernas, escutar dos meus adversários e amigos que, visivelmente, eu sou o atleta que tem mais limitação físicas. Mas não poder competir?”, questionou.
Segundo o IPC, os processos no Comitê de Apelação de Classificação são confidenciais. Depois de o documento ter sido protocolado, a entidade tem 28 dias para concluir uma avaliação inicial e reunir um grupo independente que ficará responsável por dar continuidade à apelação. “Para mim, esse continua sendo o meu trabalho, só não quero perder o direito de escolher quando vou fechar o ciclo, que é um direito que eles estão me tirando”, desabafou.
Seu projeto era disputar a Paralimpíada de Tóquio-2020 e continuar nadando por mais alguns anos, mas sem pretensões de chegar a Paris-2024. Por ter se tornado inelegível, ele não pôde fazer índice para o ParaPan, em Lima, e o Mundial, em Londres, neste ano. Então, está fora destas duas competições.
“O duro é, ao final de tudo isso, entender que da forma mais cruel alguém te tira o direito de decidir algo na sua vida. Estou sendo impedido de progredir naquilo que gostaria de fazer no esporte e, principalmente, decidir a hora que devo parar. Eu queria poder disputar minha quarta Paralimpíada”, avisou o atleta, que desde que se tornou inelegível tem evitado entrar na piscina da Companhia Athletica, onde treina, em São Paulo, por causa da tristeza pela situação – ele aceitou posar para foto no local a pedido do Estado.