O dólar ganhou força nesta quinta, 6, ante moedas emergentes e o real só não foi novamente a divisa com pior desempenho porque a lira turca despencou para nível recorde de baixa, em meio a desconfiança do mercado sobre a recuperação econômica do país e após o governo turco gastar bilhões para tentar conter a sangria de sua moeda. No mercado doméstico, o fato de o Banco Central ter deixado a porta aberta para futuro corte da taxa básica de juros ajudou a pressionar o câmbio, assim como o aumento da preocupação com a questão fiscal brasileira. A expectativa agora é para o relatório de emprego da economia americana, que será divulgado nesta sexta-feira.
No mercado comercial, o dólar à vista fechou em alta de 0,95%, cotado em R$ 5,3432. No mercado futuro, o dólar para setembro subia 0,93%, cotado em R$ 5,3495 às 17h. O giro de negócios hoje foi o menor dos últimos dias, ficando em US$ 10,7 bilhões.
Na avaliação do gestor da Kinea Investimentos, Marco Freire, há chance de novo corte de juros se o governo sinalizar que vai honrar o teto da dívida. Ele avalia que a atividade ainda estará enfraquecida no final do ano, com desemprego alto e inflação abaixo da meta. "Nesse cenário, se honrar o teto, tem hipótese razoável de novo corte", disse ele em live do BTG Pactual hoje, ressaltando que o fiscal do Brasil está "muito desafiador". Para Freire, o governo não vai conseguir equacionar de uma vez todo o esforço fiscal feito este ano para contornar os efeitos da pandemia do coronavírus. Ele acredita que o auxílio emergencial deve ser prolongado.
Para o gestor da Absolute Investimentos, Fabiano Rios, a tendência é que o BC mantenha os juros na próxima reunião, mas pode cortar novamente até final do ano. Sobre o real, ele observa que os participantes do mercado se acostumaram a ver, durante muito tempo, a moeda brasileira muito valorizada, mas por causa da taxa de juros elevada no Brasil. "O real está desvalorizado, mas os fatores que fizeram com que ele se desvalorizasse ainda estão presentes", disse Rios na live do BTG, destacando que o ponto de equilíbrio do câmbio é com a divisa brasileira um pouco mais valorizada do que agora, mas não muito.
Com a Selic em nível histórico de baixa e o juro real ao redor de zero, gestores alertam para a chance de saída de capital do Brasil dos próprios brasileiros, em busca de maior retorno no exterior, o que vai contribuir para pressionar ainda mais o câmbio. Na avaliação do sócio e economista-chefe da Apex Capital, Alexandre Bassoli, a taxa de juros é baixa de forma inédita, ao mesmo tempo em que o Brasil tem que conviver com nível elevado de risco fiscal. "De fato, podemos ter uma dinâmica de investidores brasileiros decidindo alocar parte do patrimônio fora do Brasil."