Modalidade das mais praticadas no País, o jiu-jítsu ainda está muito longe de entrar para o programa olímpico, mas pode ser muito bem representado nos Jogos do Rio/2016. Netos do principal precursor da arte marcial brasileira, os irmãos Rolles Filho, Gregor e Igor Gracie decidiram deixar um pouco de lado o MMA e a modalidade que o clã desenvolveu para brigar pela vaga olímpica na luta livre.
Dos três, quem está mais perto do objetivo é Rolles Gracie Filho, o mais velho do trio. Aos 36 anos, ele venceu a seletiva promovida no fim de semana passado pela Confederação Brasileira de Lutas Associadas (CBLA) e agora faz parte da seleção brasileira na categoria até 125kg no estilo livre. Seus irmãos Gregor (29 anos, até 86kg) e Igor (34 anos, até 74kg) também participaram do chamado “trials”, mas não foram oficialmente convocados, ainda que estejam autorizados a treinar com a seleção.
Os três moram em Nova York , onde são treinados pelo iraniano Hamid Kermanshah, ex-campeão mundial de luta, por quem foram incentivados a se arriscar exclusivamente no que os norte-americanos chamam de wrestling, base do estilo deles de lutar MMA. “Sempre treinei um pouquinho de luta, mas focado para o MMA, nunca focado para o esporte, porque é completamente diferente. Um belo dia nosso treinador queria que a gente competisse, disse que a gente tinha habilidade e tal. Desde então a gente está nessa”, conta Rolles Filho.
Seu pai, Rolls, foi um dos precursores da luta no País. Afinal, acreditava que em outras modalidades (também judô e sambô, entre outras) poderia encontrar técnicas que aprimorariam seu jiu-jítsu. Rolls é filho de Carlos Gracie, considerado o criador do jiu-jítsu, mas foi criado pelo seu tio Hélio, mais jovem, tido como principal propagador da modalidade no mundo.
No MMA, Rolles Filho tem carreira de relativo sucesso. Venceu três lutas até chegar ao UFC, em 2010, mas a derrota na estreia fez com que não seguisse na principal franquia do MMA. Depois, foram mais cinco vitórias (todas por finalização) até sofrer outras duas derrotas – uma em 2013, outra em 2014.
Na luta, foram até agora dois torneios reconhecidos pela Federação Internacional (Fila), ambos em novembro. Em Nova York, perdeu duas lutas e venceu uma. Depois, no Rio, na Copa Brasil, três derrotas e uma vitória, para ficar no quarto lugar. Sem Bolsa Atleta ou qualquer tipo de apoio para ficar no esporte olímpico, os Gracie deverão investir do próprio bolso em busca do sonho olímpico. Rolles, porém, explica que aventura na luta não significa abandonar a modalidade que está no sangue.
“Tiro meu sustento do jiu-jítsu. Não abandonei o jiu-jítsu. Não abandonei inclusive o MMA. Nesse período da minha vida só estou mais focado nessa nova empreitada. Estou usando dinheiro da minha luta de MMA para poder competir e treinar”, conta Rolles, que, apesar de morar nos EUA, nasceu no Rio e quer disputar uma Olimpíada em casa. “Vamos ver como a gente pode fazer isso. Sei que não é fácil, mas enquanto eu tiver uma chance vou tentando.”
O sobrenome Gracie pode ajudar a difundir a luta no País, mas a CBLA promete não dar privilégios aos irmãos na briga pela vaga olímpica. O presidente da entidade, Pedro Gama Filho, foi procurado quando os três decidiram se arriscar na luta e “abriu as portas” para os eles, como conta Rolles, permitindo a inscrição em eventos de alto nível. “Mas a gente vai conquistar nossa vaga no tapete. É um sonho distante, mas estou mostrando trabalho.”
Os dois irmãos mais novos parecem mais distantes do sonho. Só Gregor ganhou uma luta na Copa Brasil (contra outro brasileiro), enquanto perderam logo na estreia no tradicional torneio de Nova York, disputado no Madison Square Garden. Igor chegou a lutar no Bellator e no Strickforce, importantes ligas do MMA, tem cartel de cinco vitórias e quatro derrotas, mas não compete profissionalmente desde 2013. Gregor também subiu pela última vez ao ringue em 2013 e ostenta cartel de sete vitórias e quatro derrotas.