A nova temporada do Circuito Mundial de Surfe começa no próximo sábado (sexta-feira à noite no horário de Brasília) na Austrália com o brasileiro Gabriel Medina defendendo o título. Campeão no ano passado, o garoto de Maresias sabe que a responsabilidade aumentou. “Os caras estarão ali querendo estar no meu lugar. Mas este ano continuo com o mesmo objetivo, que é o de alcançar o título mundial.”
Serão 11 etapas, e Medina guarda uma boa lembrança da primeira. Foi em Gold Coast que ele iniciou sua caminhada rumo ao título, ganhando um evento que raramente um atleta que surfa de backside consegue vencer. A façanha deu forças para ele manter um bom ritmo e se sagrar vencedor na etapa decisiva no Havaí. “Vou passar o ano viajando, mas me preparei bem para isso”, conta. Ele aproveitou para treinar na Califórnia, em ondas de direita como em Gold Coast, e no Havaí.
“Tenho de treinar duro, tanto na parte física quanto na prática do surfe.”
O gostinho de ser campeão agradou ao rapaz de Maresias, e ele quer muito mais. “Tem vários outros caras que têm três títulos, outros dois, o Kelly Slater tem 11, e eles gostam bastante do esporte. Já conversei muito com o próprio Kelly e com o Mick Fanning, e eles sempre falam que tem de gostar bastante para atingir o maior número de vitórias. Esse é meu objetivo, vou fazer de tudo para ganhar”, afirma.
Ele garante que está preparado para a pressão de surfar com a camisa amarela, que será usada na primeira etapa pelo campeão – ela é usada sempre por quem está na liderança do circuito. “Sei que este ano vou ser o alvo, com todo mundo querendo me derrubar. Se tiver uma derrota vão cair em cima, então tenho de estar preparado para os dois tipos de coisa, para perder ou para ganhar. Quero ser campeão, mas sem pressão. Quero me divertir.”
São 36 competidores em cada etapa, e o brasileiro aponta seus favoritos na briga pela taça. “Eu botaria no papel o Kelly, o Mick, o John John (Florence), o Filipinho (Toledo), o Julian Wilson, que teve um ano difícil mas vai dar trabalho, e o Joel Parkinson, que surfa muito.”
Ele se mostra orgulhoso de vários veteranos terem se rendido ao seu talento. “É muito legal receber elogios do Kelly, do Mick, que são pessoas que admiro. Muita coisa boa aconteceu ao mesmo tempo, a alegria é imensa.”
Além de Medina, outros seis brasileiros estarão na elite do surfe este ano: Adriano de Souza, Filipe Toledo, Miguel Pupo, Jadson André e os estreantes Wiggolly Dantas e Ítalo Ferreira. “Acho que o Brasil vem forte, ainda mais com esses dois novos reforços, que são dois caras que eu sempre enfrentei no amador e sei o potencial deles, porque já perdi e já ganhei no confronto. O título mundial vai ajudar e vai mudar o olhar dos juízes. Acho que a gente ganhou respeito.”
Para a temporada, a estratégia de Medina será a mesma do ano passado. Ele não será tão acrobático quanto pode, mas fará exibições para encantar os juízes. “Deu certo assim, mas sempre estou procurando melhorar cada rasgada, cada batida, cada aéreo, em todos os pontos. Agora eu entendi como é o julgamento e como são as ondas. Apesar da idade, tenho uma experiência boa e vou para a temporada calejado.”
CIRCUITO FEMININO – O Brasil terá apenas uma representante na elite feminina do Circuito Mundial de Surfe: a cearense Silvana Lima, que depois de ficar ausente na temporada passada, foi campeã da segunda divisão e retorna ao grupo das melhores atletas. Claro que as dificuldades são enormes para a atleta que busca um patrocínio principal para tentar competir de igual para igual com as adversárias. “Estou ansiosa para tudo começar”, diz.
Ela já está na Austrália, treinando para a disputa do Roxy Pro Gold Coast, que será realizado de 28 de fevereiro a 11 de março, mesmo período da competição masculina. Na primeira fase, ela terá pela frente a australiana Stephanie Gilmore, campeã do ano passado, e mais uma competidora convidada da organização. “Estou muito feliz, estou de volta para o lugar de onde eu nunca deveria ter saído. Mas ficar fora foi bom para eu ter tempo para me preparar mais. Agora estou na melhor fase do meu surfe e pronta para a briga pelo título”, avisa.
Aos 30 anos, ela é uma veterana do Circuito Mundial e tem três vitórias na elite. “A expectativa é a melhor possível porque teremos três etapas novas em lugares que gosto muito de surfar, que são Lowers, Fiji e Maui. Estou ansiosa.”
A surfista entende que o título de Gabriel Medina no masculino vai ajudar a abrir as portas para o feminino e também servirá de inspiração para a temporada. “Isso me faz querer um título também”, comenta, rindo. “Espero que ajude a abrir as portas para outros atletas serem vistos por marcas que não são ligadas ao esporte. Eu mesma fui vice-campeã mundial duas vezes, sou atual campeã do WQS e brasileira, mas não tenho patrocínio principal. Todo atleta precisa parar de pensar nas contas para se preocupar só com campeonatos. Isso ajudaria muito na evolução do esporte.”
Para a temporada, Silvana acha que as melhores do ranking no ano passado são favoritas, mas ela promete estragar a festa. “Eu tenho surfe para brigar de frente com elas. Não será fácil, mas é assim que eu gosto. Sempre lutei para conseguir tudo, minha vida foi muito difícil no passado, então já estou acostumada”, conclui.