Cento e dezoito torcedores do Vasco e do Fluminense foram presos no entorno do estádio do Engenhão, na zona norte do Rio, após duas brigas envolvendo integrantes de torcidas organizadas. Todos foram autuados pela Polícia Civil sob acusação de formação de quadrilha e de “promover tumulto e praticar ou incitar a violência” perto do estádio, crime previsto no Estatuto do Torcedor. Advogados e parentes de torcedores presos ouvidos pela reportagem na Cidade da Polícia negaram as acusações.
Na primeira ocorrência, cerca de 120 torcedores dos dois clubes se envolveram em uma briga perto da estação de trem do Méier e 82 foram presos, segundo a Polícia Militar. A segunda briga envolveu apenas torcedores de duas correntes rivais da Força Jovem, torcida organizada do Vasco, na Rua Arquias Cordeiro, no Méier, e 36 foram presos, ainda de acordo com a PM.
O comandante do Grupamento Especial de Policiamento em Estádios (Gepe), João Fiorentini, afirmou que foram apreendidos com torcedores 7 morteiros, pedras, estacas de madeira, barras de ferro, um soco inglês e um spray de pimenta.
Responsável pelo inquérito, a delegada Cristiane Carvalho de Almeida, titular da 24.ª DP, em Piedade, na zona norte, afirmou que “mais da metade dos 118 tem antecedentes criminais”, sem precisar o número exato e as acusações.
Luciana Pereira, de 43 anos, mãe do torcedor do Vasco Adolfo Vinícius Pereira, de 24 anos, afirmou que seu filho foi preso injustamente. “Ele estava descendo da estação de trem quando viu a confusão e correu em meio ao gás lançado pela polícia, mas correu para o lado errado. Meu filho nunca foi de torcida organizada. É trabalhador, motorista de caminhão, e acabou de sair do Exército”, disse ela, chorando, na porta da Cidade da Polícia, em Manguinhos, na zona norte. Cerca de 60 parentes de torcedores presos se concentravam no local em busca de informações.
Advogado de um grupo de vascaínos, Washington Figueiredo disse que seus clientes negaram as acusações. “Agora vamos ter acesso ao inquérito, avaliar e tomar as medidas cabíveis.” Herbert Borges, que representava um grupo de torcedores da Young Flu, do Fluminense, também negou as acusações. “Meus clientes chegaram ao local depois do confronto e foram presos. Vamos requisitar filmagens de câmeras da região para provar isso.”
Dos 118 presos, 19 têm menos de 18 anos. Segundo a Polícia Civil, 99 seriam transferidos na tarde desta segunda-feira, 23, para o Complexo Penitenciário de Bangu, na zona oeste, e os 19 menores seriam levados para a Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA).