Em tempos de volatilidade, o brasileiro tem agora mais um produto de renda fixa no cardápio da indústria trilionária de fundos. Começa a ser negociado nesta segunda-feira, 10, na B3 o primeiro ETF do segmento no País. O fundo, lançado pela gestora coreana Mirae Asset, tem vantagem tributária em relação a outras aplicações e um custo mais baixo do que a maioria dos fundos de renda fixa. O investidor, porém, deve ficar atento à taxa de corretagem.
Atualmente, existem no País 15 ETFs (Exchange Traded Funds, na sigla em inglês) – todos de renda variável. O ETF é um fundo que espelha determinado índice e tem cotas negociadas em Bolsa. O Bova11, por exemplo, replica o Índice Bovespa, ou seja, é composto pelas mesmas ações que formam o índice.
O produto da Mirae seguirá o desempenho de contratos de juros futuros com prazo médio de três anos. O índice utilizado – S&P/BM&F Juros Futuros – acumulou alta de 6,77% nos 12 meses encerrados em agosto, ligeiramente abaixo do CDI – taxa que baliza as aplicações de renda fixa -, que avançou 6,83%. Já nos 12 meses encerrados em julho, o índice superou o CDI: 10,67% ante 7,08%.
A adoção dessa referência surpreendeu o mercado, que aguardava por um índice composto por produtos como títulos do Tesouro Direto. “A nossa ideia foi sair do convencional – e esse índice é muito competitivo”, explica André Pimentel, diretor de investimentos da Mirae no Brasil. “A Selic está num patamar baixo, mas curva de juros (expectativa de juros futuros) é completamente diferente – ela já capta a melhora na rentabilidade.”
O investimento mínimo no mercado secundário – ou seja, por meio de uma corretora de valores – será de uma cota, sendo o valor inicial R$ 10. A taxa de administração é de 0,3% ao ano.
A principal vantagem do ETF será a alíquota de Imposto de Renda de 15% sobre a rentabilidade no momento do saque. Os fundos tradicionais e outras aplicações de renda fixa, como títulos públicos e CDBs, estão sujeitos a uma alíquota regressiva, que começa em 22,5% para saques até seis meses e vai até 15% após dois anos.
Outro diferencial será a ausência do chamado come-cotas, tributação que ocorre duas vezes por ano, em maio e novembro.
Para o produto decolar, a Mirae terá como parceiro o banco BTG Pactual, que será o chamado market maker. O objetivo do “formador de mercado” é fomentar a liquidez do fundo, garantindo a disponibilidade de compra e venda de cotas sempre que houver demanda.
O fundo da Mirae será o primeiro, mas no início de 2019 o investidor já terá outro ETF à disposição: o ID ETF, apoiado pelo Tesouro Nacional e pelo Banco Mundial. O gestor do fundo será o Itaú, que venceu o edital lançado em maio.
Diferentemente do fundo da Mirae, o ETF do Tesouro replicará o IMA-B (Índice de Mercado Anbima), compostos por títulos públicos indexados à inflação. O custo para o investidor deve ficar em torno de 0,5% ao ano.
Custos
Apesar de ser mais barato que a maioria dos fundos de renda fixa e de apresentar vantagem tributária, as taxas dos ETFs do segmento serão altas na comparação com as praticadas em outros países, observa Michael Viriato, coordenador do laboratório de finanças do Insper. “Lá fora, esses ETFs têm taxas da ordem de 0,1% ao ano; aqui, elas serão a partir de 0,3%.”
Ele observa que, para o pequeno investidor, pode não valer a pena aplicar num fundo com taxa de 0,3% ao ano, que é a mesma taxa de custódia da B3 dos títulos públicos. “Além da taxa de administração, por ter cota negociada em Bolsa, no ETF, o investidor terá de pagar a taxa de corretagem, ou seja, um valor por ordem de compra e outro por ordem de venda, que pode ser até R$ 20.”
Para valores pequenos, diz Viriato, é mais vantajoso continuar investindo no Tesouro Direto – que permite aplicação a partir de R$ 30 -, já que a maioria das corretoras não cobra taxa de custódia. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.