O presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, destacou nesta quarta-feira, 10, em carta aberta ao ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, que a reversão da inflação dos preços dos alimentos no domicílio em 2017 foi maior que o previsto, tanto pelo Comitê de Política Monetária (Copom) quanto pelos analistas de mercado.
“Como destacado nas edições trimestrais dos Relatórios de Inflação, a variação dos preços do subgrupo alimentação em domicílio foi a principal responsável pelas surpresas desinflacionárias nas projeções de curto prazo”, disse Goldfajn.
“Como mencionado, o Copom tem enfatizado que, em ambiente com expectativas de inflação ancoradas, a política monetária deve se concentrar em combater apenas os efeitos secundários de ajustes de preços relativos, incluindo os associados à desinflação dos preços de alimentos”, acrescentou o presidente do BC, ao abordar a postura da instituição em relação à forte queda de preços desses produtos. “Também tem sido ressaltado que a política monetária segue os mesmos princípios tanto diante de choques de oferta inflacionários quanto desinflacionários. Esse é o procedimento padrão, recomendado pela literatura econômica e pela prática internacional.”
De acordo com Goldfajn, se o Copom tivesse reagido aos efeitos primários do choque de preços de alimentos, o colegiado teria, posteriormente, que reagir aos efeitos primários de eventual subida desses preços, “gerando excessiva volatilidade na taxa de juros e possivelmente comprometendo o cumprimento da meta para a inflação para os períodos seguintes”.
Goldfajn afirmou que, em função dessa abordagem, a Selic (a taxa básica de juros) passou a ser reduzida em ritmo mais intenso ao longo de 2017. “A redução da Selic favorece a expansão da atividade e o consequente fechamento do hiato (negativo) do produto, contribuindo assim para atingir as metas de inflação definidas pelo CMN (Conselho Monetário Nacional)”, disse Goldfajn na carta. “O Copom tem reiteradamente enfatizado que a conjuntura econômica prescreve política monetária estimulativa, ou seja, com taxas de juros abaixo da taxa estrutural.”
A carta aberta divulgada nesta quarta-feira traz as justificativas do Banco Central para o fato de a inflação oficial de 2017, divulgada nesta quarta pelo IBGE, ter ficado abaixo de 3,0%, em 2,95%. O centro da meta de inflação perseguida pelo BC em 2017 era de 4,5%, com margem de tolerância de 1,5 ponto porcentual (inflação entre 3,0% e 6,0%). Pelas regras do regime de metas, sempre que a inflação fugir do intervalo estabelecido, o presidente do BC precisa enviar uma carta aberta ao ministro da Fazenda – que é, tecnicamente, o presidente do Conselho Monetário Nacional (CMN), responsável pelo estabelecimento das metas.