A um ano da troca do comando da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), um grupo de montadoras se organiza para lançar uma chapa de oposição. Se conseguir, será a primeira vez que haverá disputa pela presidência da entidade. Criada em meados dos anos 50, quando a indústria automobilística começava a se instalar no País, a Anfavea hoje representa 27 fabricantes que respondem por 22% do Produto Interno Bruto (PIB) industrial brasileiro.
Nos últimos anos a Anfavea perdeu parte de seu poder de influência, mas comandar a associação é um desejo de quase todas as empresas. O acesso a governantes facilita a defesa de vantagens para o setor ou mesmo para a montadora individualmente, admitem, sob reserva, executivos das empresas.
Há mais de 30 anos a presidência fica nas mãos de quatro grandes fabricantes de automóveis – GM, Fiat, Volkswagen e Ford – e da Mercedes-Benz, maior no ramo de caminhões e ônibus. Por um acordo informal, as cinco se revezam na indicação do presidente, que permanece no cargo por três anos. Existe até um processo eleitoral, mas apenas protocolar, pois já está definido que o primeiro vice-presidente irá ocupar o cargo.
Nesse esquema, o próximo a assumir o posto hoje ocupado por Antonio Megale, da Volkswagen, seria Rogelio Golfarb, da Ford. O grupo contrário ao rodízio é liderado principalmente pelas asiáticas Hyundai, Toyota e Honda, e com possível apoio de marcas francesas como a Renault, e até de fabricantes de tratores, segundo executivos envolvidos nas discussões.
Um provável cabeça de chapa do grupo da oposição é o diretor de relações governamentais da coreana Hyundai, Ricardo Augusto Martins, um dos 32 vice-presidentes da entidade. Também há apoio ao nome de Ricardo Bastos, da Toyota.
Embora pareçam unidas, há diversas desavenças entre as marcas representadas pela Anfavea, pois cada uma tem suas peculiaridades. A nova direção da Anfavea, por exemplo, terá de discutir com o governo a renovação do regime que estabelece benefícios especiais a montadoras instaladas no Norte, Nordeste e Centro-Oeste, que vence em 2020. Estão nessas regiões a Ford e a Fiat Chrysler (ambas da lista de rodízio), a Caoa/Hyundai e a Mitsubishi/Suzuki. O presidente Michel Temer prometeu recentemente prorrogar o programa, mas não há decisão oficial.
Desgaste
Outro tema que estará na pauta nos próximos anos é a aplicação do Rota 2030, a nova política industrial do setor que deveria ter entrado em vigor em janeiro, mas está parada nas mãos do governo.
Um dos itens do programa é o incentivo à produção de veículos híbridos e elétricos. A Toyota já desenvolveu um modelo Prius híbrido flex, que roda com etanol e gasolina. A marca é forte defensora da redução de impostos para este tipo de veículo.
Desde o ano passado, a Anfavea se desgastou por não ter conseguido aprovar o Rota 2030. O programa foi barrado pelo Ministério da Fazenda, contrário a incentivos ao setor.
A decisão sobre o Rota 2030 pode ficar para o novo governo que assumirá em 2019. As empresas, contudo, esperam que seja anunciado por Temer na próxima quinta-feira, quando está previsto (mas não confirmado) encontro com presidentes de todas as montadoras.
A gestão atual também teve de lidar com a maior crise da história do setor. O próximo presidente vai encontrar o mercado em rota de crescimento.
Além das próprias empresas, há questões pessoais entre os que querem assumir a entidade. “Existe uma certa ambição pelo cargo pois ele dá status (por liderar um grupo de multinacionais com peso importante na economia do País), por aparecer na mídia, tornar-se conhecido”, diz uma fonte do setor. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.