A aversão ao risco no mercado internacional e a postura cautelosa do investidor com o cenário doméstico levaram o dólar ao seu maior valor ante o real em quase dez meses nesta sexta-feira, 6. Lá fora, o temor dos efeitos de uma guerra comercial que se desenha entre Estados Unidos e China derrubou as bolsas de Nova York e fortaleceu a moeda norte-americana ante divisas de países emergentes e exportadores de commodities. Internamente, continuaram vivas as incertezas quanto à elegibilidade do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que teve a prisão decretada ontem.
No mercado à vista, o dólar fechou em alta de 0,67%, cotado a R$ 3,3630, maior cotação desde 18 de maio do ano passado. O viés altista foi verificado desde a abertura dos negócios e, na máxima, a cotação do “spot” chegou aos R$ 3,3795 (+1,17%). A sessão de negócios foi bastante movimentada nos mercados à vista e futuro, com volumes superiores à média dos últimos dias. No mercado à vista, foram movimentados US$ 2,5 bilhões. No mercado futuro, o dólar para liquidação em maio movimentava US$ 24 bilhões até as 17h34.
O maior impacto da notícia do mandado de prisão de Lula foi sentido pela manhã, em meio à diversidade de notícias e especulações acerca da apresentação do ex-presidente e das tentativas jurídicas de evitar a prisão. Analistas apontaram desconforto de investidores diante de uma percepção de insegurança jurídica, devido a questões como o racha no Supremo Tribunal Federal (STF). À tarde, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) negou pedido de habeas corpus da defesa de Lula que buscava adiar a prisão.
Para Reginaldo Galhardo, gerente de câmbio da Treviso Corretora, a alta do dia foi um misto de fatores externos e internos que incentivaram a aversão ao risco. No que diz respeito ao cenário político, ele atribui a uma “insegurança política e jurídica” a postura mais cautelosa do investidor, que teria buscado proteção no dólar. “Diante dessa incerteza, o investidor opta por ficar comprado, pois a possibilidade de erro é pequena. E não podemos esquecer que o País continua a enfrentar os mesmos obstáculos de 2017 e ainda temos o risco de uma terceira denúncia contra o presidente Michel Temer. Tudo disso deixa o investidor estrangeiro em uma espécie limbo”, afirmou.
Outros analistas, no entanto, atribuíram o movimento interno do dólar hoje quase que exclusivamente ao cenário internacional, que teve um dia de forte volatilidade, com o noticiário americano no foco das atenções. Em cena, continuaram os atritos com a China. Ontem, o governo americano anunciou intenção de impor tarifas a mais US$ 100 bilhões em produtos chineses, intensificando as preocupações com um conflito comercial. À tarde, o secretário do Tesouro dos EUA, Steven Mnuchin, admitiu a possibilidade de guerra comercial com a China, mas ponderou que este não é o objetivo dos EUA.
“O ambiente externo foi de alta volatilidade, o que induz o dólar a ganhar valor, com investidores enxugando posições em ativos de risco. Nosso mercado é pequeno e não tem forças para contrariar essa tendência de realinhamento”, disse Cléber Alessie Machado Neto, operador da Hcommcor corretora.